Eleições na Argentina

Brasília (DF) 19/11/2023 – Julia Lupine durante votação. Cerca de 23 mil argentinos votam no Brasil neste segundo turno para eleger o novo presidente do país, essa votação acontece na embaixada em Brasília e em 10 consulados espalhados pelo Brasil. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Por Guilherme Corona

No dia 19 de novembro, ocorreu o segundo turno das eleições argentinas, em que o agora presidente Javier Milei venceu o candidato peronista Sergio Massa.

A social-democracia latino-americana sofreu mais um golpe histórico com a derrota de Sergio Massa, pois a tão breve República argentina elegeu um presidente que, além do programa antipopular e desastroso, venera o passado ditatorial. Mais uma vez a burguesia argentina resolveu que a governança moderada do peronismo não era o suficiente, que os seus bolsos precisavam de mais, sempre mais.

Olhando de longe, não faz muito sentido (para os arrazoados), a eleição de um direitista, escrachadamente reacionário e com arroubos autoritários. Não viram os argentinos a destruição que fora o governo Bolsonaro? A burguesia argentina não se deu conta que é perigoso criar um cachorro com sede de sangue? Não estão satisfeitos os ricos com seus enormes rendimentos?

A resposta sempre parece ser não, enquanto as condições do povo argentino definham mais que qualquer experiência vizinha com uma aventura reacionária. Pouco importa para os milhares de trabalhadores em condições miseráveis, em meio a uma inflação galopante e uma economia dependente de dólares, se nem tudo que Milei fala é verdade, ou se ele tem algumas ideias polêmicas, afinal, ele vem de fora, ele trará as mudanças.

Em tempos de crise, todos pedem mudança, se abre o espaço político como nunca, e nesse espaço podem ser criadas os mais belos avanços, ou os mais hediondos retrocessos. E dessa vez, sob gritos de liberdade e sonhos de consumo, a Argentina avança para tempos de repressão e de fome. Que liberdade pode oferecer alguém que ama a ditadura? Que consumo pode oferecer alguém que só promete o mercado, mas não o emprego?

De qualquer forma, é sintomático que um candidato apoiado pelo bloco histórico do peronismo, forte como nenhum outro dentro da esquerda argentina, e membro do atual governo, possa ser derrotado por um fantoche das faces mais cruéis do capital. É quase como se a estratégia de moderação, sempre optando por agradar o mercado, dar as condições para que a burguesia se acomode em seu governo, não fosse o suficiente para manter os cães amordaçados.

Mas não é quase, é um resultado direto de um governo que prometeu romper com a política neoliberal de Macri, mas manteve as grandes bases dessa e não se comprometeu em aprofundar as reformas sociais que a Argentina clama, e que a classe trabalhadora argentina necessita. Mesmo em ares de moderação, a burguesia sempre vai optar pelas maiores taxas de lucro, e às vezes essas casam com o reacionarismo e com a desgraça total da classe trabalhadora.

Milei foi se apresentando cada vez mais “moderado” com o passar das eleições, dizendo que não legalizaria a venda de órgãos, ou matizando o discurso armamentista. O mesmo fez Massa, sempre se apresentando como o candidato da moderação, em oposição à loucura, ao desequilíbrio, à insanidade de Milei. Ainda assim, o último venceu.

Para o Brasil, pouco se parece a eleição de Milei com a de Bolsonaro, já que não saímos do governo Dilma, mas sim do golpe de Temer, onde já estava estruturada a ofensiva burguesa. Talvez possa ser essa uma lição então para as próximas eleições. Com muito custo se derrotou o reacionarismo, e há de se fazer diferente, há de se criar alternativas, ou ele voltará forte como nunca. Entrando no governo Lula, cabe aos revolucionários anunciar sua independência e quem sabe na crise, possamos assumir o papel de mudança.

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