Por Guilherme Corona
No dia 03 de dezembro, foi realizado um referendo na Venezuela sobre a disputa entre a Venezuela e a Guiana sobre a região de Essequibo.
O Essequibo é um território administrado pela Guiana, compondo mais de 70% do seu território atual, e reivindicado pela Venezuela. Ela se situa no limite leste da Venezuela, e faz fronteira com o estado brasileiro de Roraima. Mais recentemente, campos de petróleo foram descobertos no território marinho da região e têm sido explorados pela empresa estadunidense Exxon Mobil.
Essa disputa territorial remonta ao tempo das colônias espanholas na América, vez que o Essequibo pertencia à Capitania-Geral da Venezuela, unidade administrativa do Império Espanhol na América do Sul. Na época, o Império Britânico ocupou a região, no domínio da Guiana Britânica, e se recusou a devolver o território depois da independência venezuelana, se recusando a avançar num acordo diplomático.
A questão seguiu sem resolução por todo o século XX, mesmo que a disputa tivesse diminuído de tom e temperatura, até que a descoberta de campos de petróleo e a cessão deles para o capital estadunidense acendesse novamente a disputa, ainda em 2018. Em 2020, a Guiana reafirmou sua soberania na região e continuou permitindo a exploração da Exxon Mobil no território, inflamando o conflito.
Enquanto isso, o governo do PSUV vem enfrentando uma conjuntura interna cada vez mais dura. Ao mesmo tempo que lida com um boicote dos EUA à sua soberania, aposta nos conchavos com a burguesia venezuelana e internacional (até mesmo com a Chevron, de capital estadunidense) e reforça medidas repressivas contra o movimento sindical e popular combativo do país, rompendo com a concertação com o PCV e fragilizando sua postura frente à classe trabalhadora.
Nesse cenário de desequilíbrio interno, com investidas da direita e do imperialismo para desestabilizar o governo, que se afasta cada vez mais da sua base popular, Maduro aposta na construção de um sentimento chauvinista pela disputa, buscando uma união nacional em torno de uma investida reacionária e antipopular, que não mexe com os privilégios da burguesia.
O escalonamento das tensões entre a Venezuela e a Guiana interessam somente ao imperialismo, que além de encontrar justificativas para aumentar sua presença militar, aproveita das brechas para fragmentar a integração sul-americana e continuar apartando o PSUV dos interesses populares e classistas. O povo sul-americano não deve se deixar seduzir pelo chauvinismo, deve reconhecer que a reivindicação da Venezuela é justa, mas se colocar ao lado de uma solução negociada, nos marcos do entendimento entre os governos, de não utilização da força.
Da mesma forma, devemos rechaçar firmemente a presença estadunidense na região, que além de sugar os recursos da América do Sul, pela atuação da Exxon Mobil e Chevron, também atua para inflamar os conflitos e desestabilizar a paz regional, articulando exercícios militares na Guiana e ansiando para estabelecer bases militares na região.
É então urgente conclamar as classes populares da América do Sul em torno de uma agenda comum: 1) rechaçar de todas as formas a presença estadunidense na região, seja em dólares ou armas; 2) defender a manutenção das liberdades democráticas em ambos os países, denunciando os abusos do Estado burguês; e 3) retomar as conversas por uma solução justa e negociada para a disputa, pelos interesses do povo e não pelos ditos do capital.