Por Guilherme Corona
Desde o golpe da direita peruana que retirou Pedro Castillo do poder, as manifestações pela sua libertação e pela deposição de Dina Boluarte têm sido duramente reprimidas.
No dia 7 de dezembro de 2022, foi executado um golpe institucional contra o presidente peruano Pedro Castillo, por parte do Congresso, em articulação com a oligarquia e o imperialismo, que não tendo legitimidade para dar um golpe militar, aproveitaram-se da manobra atrapalhada de Castillo para dissolver o Congresso e convocaram sua cassação e prisão preventiva, em que ainda se encontra.
Pedro Castillo venceu as eleições de 2022 com uma ampla plataforma, que, representando alguns dos anseios do povo trabalhador, em boa parte indígena, derrotou a extrema direita, representada na figura de Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que governou entre os anos 1990 e 2000. Essa eleição, embora não significasse o fim do domínio burguês no país, incomodou a elite racista e oligárquica do Peru, que não aceitou o mínimo questionamento da ordem social estabelecida.
Após eleito, Castillo prosseguiu para uma aproximação constante da direita, desmobilizando o movimento popular que o levou à presidência e falhando em conciliar com a oligarquia local, falha evidenciada na sucessiva dissolução dos gabinetes montados por ele, que pendiam prosseguidamente para a direita, afastando o governo da sua única base real, as massas populares.
Depois de meses de desgaste, Castillo, em sessão do Congresso, tentou dissolver o mesmo para que conseguisse governar efetivamente, porém não obteve sucesso, teve seu mandato cassado e foi preso preventivamente. Não tendo mais um amplo movimento popular para se amparar, não conseguiu impedir a tomada do poder pela direita, representada na sua sucessora constitucional, Nina Boluarte.
Então preso, destituído do poder, Castillo e seus simpatizantes vão mais uma vez tentar apostar na movimentação popular, convocando grandes manifestações de rua pela sua libertação e pela destituição de Boluarte, ambos os feitos ainda por conseguir, e têm encontrado ativa resistência das forças repressoras do governo, rendendo mais de 50 mortos entre dezembro e fevereiro.
Mesmo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), organismo da OEA, abriu uma investigação para apurar os massacres perpetuados pelo Estado peruano, chamados cinicamente de execuções extrajudiciais, para se evitar o termo mais apropriado, assassinato. Mesmo que condenada, Boluarte ainda poderá gozar de mais 3 anos de liberdade, uma vez que possui imunidade até 2026, e, portanto, tempo de sobra para prosseguir punindo e torturando o povo peruano na sua jornada pela liberdade.
Castillo nem representava uma ruptura radical com o capitalismo Peru nem se prestou a um enfrentamento com o imperialismo, ocorrendo durante seu mandato inclusive o aumento das bases estadunidenses em território peruano, de 7 para 10. Ainda assim, qualquer política de inclusão social que contestasse a legitimidade da elite racista de Lima era demais para a burguesia peruana.
Essa experiência reafirma o caráter intrinsecamente reacionário das burguesias latino-americanas, que preferem viver de joelhos a ver seu povo de pé, e dá um contorno sombrio aos governos chileno e brasileiro, que apostando na mesma fórmula, a conciliação de classes, dão o anúncio do seu próprio fim. De Lima a Brasília, assombram as ameaças do Capital e é assassinado o povo pela mão do Estado.