Por Geovane Rocha
Ensino Remoto na UNEB – Mesmo após intensos debates promovidos pelos estudantes ao longo do primeiro semestre de 2020, o ensino remoto em caráter extraordinário (ERE) foi aprovado e implementado na UNEB. Nesse processo, a reitoria se empenhou avidamente para garantir a efetivação dessa modalidade de ensino. É impossível não se lembrar do primeiro documento referencial apresentado, que propunha, no auge da primeira onda da pandemia, um retorno híbrido. Com aquele documento, era possível presumir que a proposta absurda tinha por finalidade gerar um consenso em torno do ERE.
Os estudantes, longe da passividade, apontaram as limitações e o caráter excludente da famigerada mediação tecnológica. Como garantir que uma das maiores universidades multicampi da América Latina, com a maioria de seus campi no interior do estado, garantisse que todos os estudantes tivessem acesso ao ensino remoto? A reitoria, ironicamente, responde: com uma pesquisa virtual para saber as “reais condições” dos estudantes. Logo após verem a dificuldade de chegar aos ideais 90%, concluíram que 75% dos discentes era suficiente para legitimar a implementação desse modelo.
Apesar da forte resistência, a realidade se impôs à juventude como a gravidade de uma estrela que se impõe sobre os planetas. No âmbito nacional, a falta de um planejamento que garantisse renda e, ao mesmo tempo, preservasse a vida das pessoas, aprofundou contradições que, com a chegada da nova COVID-19, ficaram mais claras que as águas do Rio Sucuri (MS). O aumento da carestia, da violência estatal e os altos índices de desemprego, ou seja, a falta de uma perspectiva concreta de mudança, tornou o terreno fértil para que a juventude unebiana fosse absorvida pelo discurso do “me formar para me empregar”, com direito até a mobilização de estudantes guiados por essa narrativa.
Mas o real, indiferente àquilo que queremos dele, vem demonstrando que possuir um diploma não garante empregabilidade. A alta desindustrialização, a falta de concursos, o fechamento de escolas e a implementação da reforma no ensino médio vem diminuindo cada vez mais o horizonte de possibilidades para os estudantes. E, com essas condições, foi aprovado o ensino remoto de 45 dias na UNEB.
Além de apresentar um conteúdo de 6 meses de aulas, com disciplinas cuja carga horária varia entre 60 e 30 horas (ao menos no curso de Filosofia), o professor precisava se virar para conseguir utilizar a plataforma ofertada pela Universidade, ou melhor, pela Microsoft, enquanto torcia para a internet se manter estável. O estudante, atormentado por questões do cotidiano, em casa ou no ponto de ônibus lotado, lutava para entender e acompanhar a aula. É evidente que, nesta curta jornada, estudantes foram ficando para trás e desistindo das aulas.
Para não dizer que não falei das flores, é importante mencionar o Auxílio Conectividade prometido a 3.000 estudantes. Mas, logo após um pequeno filtro burocrático, apenas 541 estudantes foram contemplados, vejam só, nos momentos finais do semestre. Os demais poderão tentar a sorte no próximo edital e, caso passem em todas as etapas (são 4, afinal), torcerem para que o auxílio caia antes que termine o semestre 2021.1. Ou ainda, torcerem para que o Governo do Estado não os deixe jogados à própria sorte e garanta o pagamento das bolsas do Mais Futuro.
No ano que se avizinha, não serão 45 dias, mas 6 meses de aula. E longe de fazer coro ao derrotismo, queremos na verdade incitar a indignação, demonstrar que o jogo institucional de cartas marcadas em nada favoreceu os estudantes e muito menos atendeu suas reais demandas. Entre a tragédia da conectividade e a farsa da inclusão, a melhor alternativa para nós, estudantes, é a luta organizada contra o desmonte da educação pública e por uma política de assistência e permanência universalizada.
Bom dia
Nem tudo foram flores, bem sei dentro dos meus 59 anos de idade , com Notebook de 2011 e dois celulares que se destruíram diante da pandemia. Nem tentei os Auxílios, porque percebi que não daria conta de tanto documento, mesmo sendo MEI e com um ganho mensal de R$1320.
Consegui passar nas duas matérias e pude também assistir várias palestras e outros cursos nas diversas universidades públicas do país. Não está sendo fácil, tem sido um grande desafio.