Por Milton Pinheiro
Teremos eleições municipais em uma situação completamente diferente das anteriores. A crise da pandemia e o grau de letalidade do Coronavírus (COVID 19) criaram um espaço novo para a disputa política, colocando no cenário do embate eleitoral novos instrumentos tecnológicos e novidades na técnica política das campanhas municipais.
Na Bahia, apesar da derrota eleitoral do “carlismo” clássico, em 2006, no controle da máquina estatal para o Partido dos Trabalhadores (PT), a forma do fazer político e da ocupação dos espaços na máquina pública não foram substancialmente modificados.
O pragmatismo eleitoral, o balcão do mercado da política, continua sendo mediado pelo Diário Oficial (cargos), a desmedida propaganda oficial, os acordos regionais reafirmando a capitulação ideológica dos novos inquilinos do Palácio de Ondina, a tecnoburocracia como fachada para atacar o papel do Estado e reafirmar a lógica privada na gerência do governo. A forma de agir diante do funcionalismo público, tratando-o como inimigo interno e não como braços da finalidade do Estado, chegando-se ao limite da construção de equipamentos que não podem atender ao seu sentido público por não ter corpo funcional, sendo, em virtude disso, entregues ao criminoso modus operandi das chamadas organizações sociais (OS). A destruição da universidade pública, enquanto a rede básica de ensino apresenta graves problemas, inclusive com escolas sendo paulatinamente fechadas em algumas cidades, reformas ultraliberais na previdência pública, são apenas algumas sinalizações do formato operativo do burgo-petismo no controle do governo baiano e nas modificações neoliberais operadas por esse consórcio no Estado.
Os acontecimentos do golpe de 2016 contra a presidente da República não constituíram nenhuma reflexão mais densa na cúpula petista em nosso estado. Jacques Wagner e Rui Costa continuam na afirmação de uma coalizão que mantém os mesmos contornos dos governos Lula e Dilma. Aqui na Bahia, tem mais “carlistas com Rui Costa” do que com ACM Neto. Esse estilo de governo burgo-petista construiu uma base política que reafirmou um modelo de gestão do mercado da política, possibilitando que lideranças tradicionais do fisiologismo local fossem projetadas ao cenário da República, a exemplo dos carlistas Otto Alencar e Ângelo Coronel, este último vicejante quadro do baixo clero.
Além disso, o governo Rui Costa é pródigo em ter dentro da sua base política deputados federais que são vice-líderes de partidos que apoiam o governo do agitador fascista, Jair Bolsonaro.
No espectro das narrativas, o governador enquadrou-se em um campo ideológico e transformou-se numa figura que repercute o conjunto da pauta conservadora: família, escola militar (a Bahia é o estado que tem mais escolas nesse formato), religião, justificativas da violência policial, conduta autoritária na relação com os movimentos de ocupação urbana e com os trabalhadores públicos, além de uma prática política que alimenta o neopentecostalíssimo na sua base (vide as relações com o deputado federal Sargento Izidório).
A Bahia, para muitos ultraliberais do consórcio burguês nacional, é um modelo de governo que opera na lógica dos ajustes fiscais: ataques aos direitos dos trabalhadores públicos, não reposição salarial, sempre ágil em remunerar a dívida pública, extravagantes benefícios fiscais, deletéria parceria público-privada e apoio político aos projetos de ajuste fiscais do governo federal.
As eleições municipais estão na pauta do governo Rui Costa, a máquina petista operou para Salvador uma saída populista no sentido da opção conservadora, ajustando-se, também, a uma possibilidade discursiva para tirar proveitos do lugar de fala: mulher negra que é policial militar. Mas, também, o governo da Bahia joga com outras possibilidades, a exemplo do sargento Izidório e outras candidaturas para a disputa com o candidato de ACM Neto. Percebe-se que nessa disputa em Salvador, assim como pelo interior do estado, não há nada de novo no front, apenas a viciada contenda pelo poder dos governos locais e a manutenção da estrutura de dominação política.
Fica um quadro de perguntas para ser desvelado no horizonte das campanhas eleitorais e na relação do governo estadual com as prefeituras: quais as respostas para a questão do desemprego em Salvador e na Bahia? Como será modificada a ação pública para melhor atender à população nas 417 cidades do nosso estado? O que serão a oferta da água e de saneamento básico? Como serão as relações das prefeituras com a violência policial e urbana? A população rural terá acesso democrático aos serviços públicos?
Cabe ao governo da Bahia e prefeitos/as se posicionarem nesse quadro tão grave, mas, cabe também a oposição da esquerda socialista apresentar seu projeto para as eleições municipais que deve passar pelo poder local e a organização popular. Só a população organizada pode operar as transformações necessárias, afinal, as eleições passam e o projeto burguês, com petismo ou sem petismo, segue seu rumo: a exploração social.
Neste cenário só uma disputa consequente nas urnas, alinhada a uma Política classista resoluta e de base é que pode ensaiar as respostas para o povo trabalhador.