Crise climática espontânea ou por expansão do capital?

Rio Grande do Sul, 10.09.2023 - Presidente da República em Exercício Geraldo Alckmin, visita áreas destruídas pelas chuvas no Rio Grande do Sul e anuncia medidas de ajuda. Foto Cadu Gomes/VPR

Por Ana Luiza Alves Bittencourt

Nos últimos anos, tem sido observada uma notável incidência de ondas de calor no Brasil, afetando diversas regiões do país e levando a temperaturas muito acima da média histórica. Este fenômeno, documentado em um recente artigo do ano passado produzido pela  BBC News Brasil, reflete não apenas uma percepção sensorial, mas uma realidade climática preocupante, com registros de recordes de calor em várias cidades. A intensificação dessas condições está ligada diretamente às ações antrópicas, que têm alterado o clima de forma significativa. O fenômeno natural do El Niño, por exemplo, tem sido exacerbado devido à interferência humana, enquanto a exploração desenfreada dos recursos naturais, como o desmatamento, a mineração e a modificação dos biomas pela agricultura, contribui para o aumento do aquecimento global.

Essas mudanças climáticas são resultado de décadas de práticas que priorizam o desenvolvimento econômico em detrimento da conservação ambiental. Desde o início da Revolução Industrial, o homem tem subjugado a natureza em prol de suas necessidades econômicas, resultando em um ciclo de produção capitalista que visa lucros excessivos, sem considerar os impactos ambientais. A falta de medidas para conter o uso desenfreado dos recursos naturais remonta à metade do século XX, quando as preocupações ambientais já eram urgentes e medidas para reduzir o impacto humano no clima estavam em discussão.

Além das atividades mencionadas, outras práticas humanas têm contribuído para o agravamento do aquecimento global no Brasil e em todo o mundo. Entre elas estão as emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis, da indústria e da agropecuária intensiva. Esses gases, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), acumulam-se na atmosfera, criando um efeito de estufa que retém o calor e aumenta as temperaturas globais.

A crescente urbanização e a expansão desordenada das cidades também têm um papel significativo no aumento do calor, com a substituição de áreas verdes por superfícies impermeáveis, como concreto e asfalto, que absorvem e irradiam calor, criando ilhas de calor urbana. Em todo o país, com a especulação imobiliária sobretudo no litoral, esse fenômeno tem se agravado.

Diante desse cenário preocupante, é fundamental adotar medidas urgentes para mitigar os impactos do aquecimento global. Isso inclui a implementação de políticas públicas que promovam a redução das emissões de gases de efeito estufa, o incentivo ao uso de fontes de energia renovável, como solar e eólica, e a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis.

Além disso, é essencial investir em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, visando aumentar a capacidade de absorção de carbono da vegetação, o que vai de encontro a práticas como o desenvolvimento que o agronegócio possui no país. A conscientização e a educação ambiental também desempenham um papel crucial, deve haver uma conciliação entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental, para que o aquecimento global não caminhe com a expansão desenfreada do capitalismo, que é um modelo de produção que se mostra cada vez mais insustentável.

“O capitalismo, em sua lógica intrínseca de busca incessante por lucro e crescimento econômico, tem levado a uma exploração desenfreada dos recursos naturais e a uma degradação ambiental sem precedentes, colocando em risco não apenas os ecossistemas do planeta, mas também a própria sobrevivência da humanidade.”

O trecho destacado resume de forma sucinta a tese central do autor brasileiro Luiz Marques em seu livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”. Ele destaca como o sistema econômico capitalista, com sua ênfase no lucro e no crescimento econômico contínuo, tem sido o principal motor por trás da exploração desenfreada dos recursos naturais. Essa exploração, por sua vez, tem resultado em uma degradação ambiental sem precedentes, ameaçando não apenas os ecossistemas do planeta, mas também a própria sobrevivência da humanidade.

Ao priorizar o lucro acima de considerações ambientais e sociais, o capitalismo tem incentivado a emissão descontrolada de gases de efeito estufa. Essas atividades têm causado danos irreparáveis aos ecossistemas terrestres e marinhos, levando à perda de biodiversidade, ao esgotamento de recursos naturais não renováveis e ao aumento do risco de desastres ambientais que também interferem no aquecimento, sobretudo na sensação térmica

Além disso, o autor  sugere que essa exploração insustentável dos recursos naturais está conduzindo a humanidade a um ponto de colapso ambiental, onde os impactos negativos sobre o meio ambiente podem se tornar irreversíveis. Essa perspectiva enfatiza a urgência de repensar o atual modelo econômico e adotar práticas mais sustentáveis que levem em consideração os limites ecológicos do planeta, que no Brasil, já é comum com 6,7 mil hectares desmatados em 2021, de bioma da mata atlântica, o que demonstra que nem os governos que devem proteger e preservar os recursos possuem essa preocupação.

Ainda que o clima leve cerca de 30 anos para se alterar, as expansões da zona urbana e a extração incessante dos recursos já modificaram os espaços. Portanto, ressalta-se a necessidade de uma mudança de paradigma, onde a preservação ambiental e o bem-estar humano sejam considerações centrais na formulação de políticas econômicas. É um chamado à ação para construir uma sociedade  sustentável, capaz de garantir um futuro viável para as gerações presentes e futuras.

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