Biden bombardeia a Síria: “Auto-defesa” ou Ato de Guerra?

Reprodução: Liberation News

Por Jordan Woll – Liberation News

Biden bombardeia a Síria: “Auto-defesa” ou Ato de Guerra?O presidente [estadunidense] Joe Biden se engajou ontem em sua primeira operação militar de destaque, lançando um ataque aéreo sobre a Síria que deixou ao menos 22 mortos. Este ataque aparenta ter tido como alvos instalações, equipamentos e lutadores de organizações de resistência iraquianas, afiliadas com as Forças de Mobilização Popular, um dos principais grupos responsáveis por libertar boa parte do Iraque do domínio do ISIS [Estado Islâmico]. Muitas milícias associadas às FMP também possuem presença cruzando a fronteira com a Síria com a autorização do governo Sírio. O ataque é apenas a última expressão das violações ultrajantes em andamento perpetradas pelos EUA à soberania da Síria.

A administração de Biden alega que estes últimos bombardeios teriam sido justificados como “auto-defesa” em retaliação pelos ataques por mísseis conduzidos ao longo das últimas semanas contra as instalações militares estadunidenses situadas no Iraque. O Secretário da Defesa dos EUA Lloyd Austin afirma estar “confiante de que aquele alvo [dos bombardeios] estaria sendo utilizado pelos mesmos militantes xiitas que conduziram os ataques [por mísseis]”. Organizações membros das FMP tem afirmado que não estiveram involvidas. O Irã, a quem o Pentágono sugere estar equipando e dirigindo as milícias iraquianas, nega igualmente envolvimento. No entanto, ainda que as alegações dos EUA sejam verdade, resistir a uma ocupação pelas vias da força, não justifica a ocupação nem converte o poder ocupante em uma vítima.

Os ataques aéreos de Biden na Síria demonstram a continuidade da política dos EUA na região. Donald Trump já havia feito de alvo as milícias associadas às FMP previamente, quando este ordenou o assassinato de alguns dos seus líderes do mais alto escalão em uma ação desavergonhada de bombardeios por drones, que custou à vida do alto general iraniano Qassem Soleimani. O mundo reconheceu prontamente o perigo das ações de Trump, que colocaram a região inteira à beira de uma guerra total. Apenas uma resposta imediata do movimento internacional anti-guerra, bem como as retaliações iranianas posteriores bem calibradas, que feriram sem casualidades as tropas estadunidenses, forçaram uma descida de Trump da beira do precipício.

De sua parte, o parlamento iraquiano votou por uma expulsão imediata das tropas estadunidenses. Esta movimentação foi acompanhada pelas mobilizações de milhões de iraquianos em algumas das maiores manifestações da história do país. No entanto, as tropas ocupantes dos EUA permaneceram, desprezando a soberania do Iraque e a vontade evidente de seu povo. Estas são as razões pelas quais mísseis periodicamente têm como alvo instalações dos EUA no interior daquele país. O secretário de comunicação do Pentágono também afirmou de forma absurda que este ataque sobre os os iraquianos no interior da Síria teve como intenção a punição dos combatentes, sem escalar as tensões já elevadas com o Irã. Evidentemente, ataques militares têm uma tendência inerente de, em realidade, elevar rapidamente as tensões. Biden afirmou semanas atrás que ele estaria interessado em retornar os EUA ao acordo nuclear com o Irã, o que significaria um fim às hostilidades abertas e às sanções ao país. Porém, ele tem sido amplamente criticado por estabelecer precondições moldadas para serem inaceitáveis ao Irã. As tensões só poderiam se elevar enquanto Biden permanecer neste trajeto, formatado para tornar a diplomacia impossível.

O Ataque é condenado pelo mundo

Vozes ao redor do mundo condenaram este ato de guerra, reconheceram a clara continuidade da agressão dos EUA entre as administrações de Trump e Biden. O Ministro das Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov apontou que o ataque ao aliado de longa data de seu país, a Síria, foi conduzido com apenas “quatro ou cinco minutos” de aviso dos EUA à Moscou. Sob convite do governo sírio, a Rússia mantém uma presença militar no interior do país para dar assistência na guerra contra grupos religiosos fundamentalistas armados. Caso os Estados Unidos tivessem acidentalmente matado soldados russos, o mundo teria submergido em uma nova crise.

Com toda a conversa sobre o Irã, não há muito sendo dito pela grande mídia dos EUA sobre o fato de que este ataque foi conduzido em solo sírio. Os Estados Unidos não estão em guerra com a Síria e não foram convidados para dentro da Síria, e de toda forma estabeleceu bases permanentes de ocupação sob o pretexto de combater o ISIS. O Ministério de Relações Exteriores da Síria se pronunciou afirmando que: “condena fortemente a agressão americana covarde” e que “este é um sinal ruim no que tange às políticas da nova administração dos EUA, que deveria aderir à [Lei] Internacional”.

Até mesmo alguns membros do próprio partido de Biden, o Partido Democrata, admitiram que a administração estava em violação das leis locais. “O congresso deveria… requerer claras justificativas para ação militar, especialmente em cenários como a Síria, onde o congresso não autorizou explicitamente nenhuma ação militar americana”, de acordo com o Senador Chris Murphy, democrata de Connecticut. Tim Kaine, um senador democrata da Virgínia, apontou a natureza inconstitucional da condução de Biden como “ação militar ofensiva sem aprovação do congresso”. A representante Ro Khanna da Califórnia relembrou o público ao condenar o ataque aéreo mortal, que Biden é agora o quinto presidente consecutivo a ordenar ataques no Oriente Médio.

Se o congresso estiver sério sobre sua oposição a este tipo de ação militar, eles deveriam se recusar a assinar os cheques que mantêm a máquina funcionando. O orçamento militar dos EUA, tem passado praticamente unanimemente todos os anos, está mais alto do que nunca e mais perigoso a cada dia para as pessoas comuns pelo mundo. Enquanto isso, as pessoas congelam até a morte em um tempestades de inverno previsíveis ou morrem em dezenas de milhares de uma infecção viral que poderia ser prevenida aqui nos Estados Unidos.

Após todas as bombas terem sido jogadas na Síria nesta semana, o Pentágono afirmou em uma declaração que a operação enviou “uma mensagem clara” – presumivelmente que os Estados Unidos estão decididos a continuar sendo a principal força beligerante ocupando ilegalmente e cometendo atos de guerra no Oriente Médio. O movimento anti-guerra e as pessoas de consciência ao redor do mundo devem enviar a nossa própria mensagem se organizando contra a agressão imperialista que continua década após década, independente de quem esteja na Casa Branca.

Texto original

[Tradução por Giovani Damico]

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