À Memória de Eusínio Gaston Lavigne

Por Camila Oliver

Eusínio Gaston Lavigne era descendente, por um lado, da família Sá e, por outro, de imigrantes franceses que chegaram ao Brasil em 1816. Eusínio nasceu em Ilhéus, na fazenda Itarirí, no dia 17 de dezembro de 1883, pouco antes da abolição. Filho de Louis Gastón Lavigne e Leonina Augusta Lavigne, teve seis irmãos.

Ainda criança, mudou-se da fazenda para a cidade de Ilhéus para que pudesse estudar no colégio da professora Maria Calasans. Em 1897, mudou-se para Salvador a fim de estudar no colégio católico São José. Formou-se em direito em 8 de dezembro de 1908. Após a formatura, retornou a Ilhéus para advogar. Após mudar-se para Jequié e depois para o estado do Mato Grosso, voltou para Ilhéus, em 1921, onde casou-se com a médica Odília Teixeira e teve os seus dois filhos: José Leo e Gastão Luiz.

Nomeado pelo historiador Nelson Werneck Sodré como “um mestre humanista”, Eusínio Lavigne, apesar de seus ancestrais, tinha posições políticas bem diferentes das praticadas por Domingos Adami e Ernesto Sá. Alguns o apontavam como comunista, todavia, sua política estava mais próxima do populismo. Era defensor da soberania regional contra a agressão do capital estrangeiro e acreditava que a cooperação entre classes e uma liderança “iluminada” trariam benefícios para a região e para o país. Suas posições de oposição ao “situacionismo municipal” já podiam ser percebidas nos escritos do jornal Diário da Tarde, em 1928.Em 1930, Eusínio Gaston Lavigne ascendeu ao poder municipal, de onde só saiu em 1937 com o golpe do Estado Novo. Em seu governo, conseguiu capitanear iniciativas como a criação do Instituto de Cacau da Bahia (ICB), em 1931, marco da intervenção estatal na região advinda para prestar socorro aos atingidos pela crise. Seu governo também foi marcado pela expansão urbana da cidade, pela defesa do patrimônio territorial do município, e pela elaboração do primeiro Plano Diretor da Cidade.

A partir de 1935, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), lança-se na construção de uma frente única com a criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Foram criados vários núcleos na região. Em Ilhéus, houve a adesão de vários segmentos da classe média, e do então prefeito Eusínio Lavigne.

Eusínio era ainda um grande incentivador da literatura regional. Acreditava que a história e a literatura fortaleceriam a região. Nesse período, Jorge Amado escreveu Cacau. Era aquela uma época em que o Partido Comunista ganhava adesões entre trabalhadores urbanos e rurais e entre alguns filhos da elite. Contudo, essa arregimentação foi interrompida em 1937, quando o presidente Vargas declarou o Estado Novo, com repressão aos dissidentes, levando-os à prisão ou ainda à morte. Neste ano, Cacau foi censurado, milhares de exemplares foram queimados em Salvador e Jorge Amado foi forçado a exilar-se no Uruguai. Até mesmo Eusínio Lavigne foi preso por seis meses no Quartel dos Aflitos em Salvador, acusado de ser comunista denunciado como co-participante do movimento comunista que realizou os levantes de novembro de 1935, sendo absolvido pelo Tribunal de Segurança, retornando para Ilhéus.

João Falcão, em seu livro O Partido Comunista que Eu Conheci, definiu Eusínio Lavigne como um “Extraordinário líder espiritualista”. Eusínio concorreu ao Senado, para a constituinte de 1946, integrando a chapa ao lado de Luiz Carlos Prestes. Lavigne, que professava como religião o espiritismo, considerava ser o socialismo um regime necessário para a evolução espiritual do homem. E, durante muitos anos, além de ter presidido a comissão de sua fundação, Eusínio foi o principal financiador do jornal comunista O Momento – Diário do Povo.

Eusínio Lavigne faleceu em 30 de abril de 1973, aos 89 anos, deixando-nos diversas obras escritas, dentre elas, os livros: Cultura e Regionalismo Cacaueiro; Como Nasceu o Instituto de Cacau; Lagoa do Itaípe; Castro Alves, Perene Inspiração; Cooperativas Semi-Estatais, Abastecimento, Problemas de Ilhéus; A Unidade da Lavoura pelo Cooperativismo; Uma Parcela de Minha Contribuição na Defesa do Porto do Malhado; Os Meus 87 Anos e Outros Assuntos; O Fenômeno Tio Juca; A Solução do Café Pelas Cooperativas Semi-Estatais; Os Espíritas e as Questões Sociais; O Instituto Cardecista da Bahia e a Sua Significação; e os de Direito – Ação Demarcatória e Ação Rescisória e Coisa Julgada.

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