O assassinato de Carlos Marighella

Por Rômulo Caires

Há 54 anos, Carlos Marighella era assassinado pela Ditadura Burgo-Militar brasileira. Para além das costumeiras e justas homenagens à coragem e firmeza deste grande revolucionário, gostaria de tratar de alguns aspectos que considero praticamente ignorados.

Carlos Marighella é muito conhecido, porém pouquíssimo lido. Em sua longa trajetória de militante comunista e dirigente destacado, Marighella produziu uma série de livros e artigos significativos. Baiano de origem, Marighella sempre foi alguém de amplo repertório, de múltiplos interesses. Além de estudos histórico-econômicos, era poeta e um escritor muito hábil.

Filho mais velho de Augusto Marighella, operário italiano, com a baiana e descendente direta de sudaneses escravizados Maria Rita do Nascimento, Carlos Marighella acusava o PCB, partido no qual militou e dirigiu por décadas, de não organizar a resistência direta ao golpe de 1964. Numa frase que ficaria eternizada, dizia: “A única luta que se perde é a que se abandona”. Com esses princípios, Marighella foi se afastando do PCB e se juntou a outros militantes interessados na resistência armada à ditadura.

A censura era um dos carros-chefes do regime bonapartista e, com isso, os guerrilheiros se esforçavam para quebrar o seu isolamento e atingir as amplas massas populares. Acreditavam que o foco revolucionário iria atiçar as forças progressistas e catalisar a derrubada das forças ditatoriais.

A imagem do texto destaca um de seus livros mais fundamentais, escrito após a prisão sofrida em cinema do RJ, dias após o Golpe de abril de 64. Marighella foi baleado no peito e preso após ter resistido bravamente às investidas dos “gorilas”.

Em “Por que resisti à prisão”, o nosso autor destaca as motivações éticas e políticas que o fizeram resistir ao arbítrio de seu encarceramento. Muito além disso, Marighella avança em análise penetrante sobre a conjuntura que levou à derrota dos comunistas e da esquerda em geral, traz contribuições valiosas sobre o Poder Militar no Brasil, sobre a gênese e estrutura das polícias e as táticas e estratégias para o enfrentamento do bonapartismo militarista. Marighella apresenta, em prosa deliciosa, farto desenvolvimento analítico e indicações que ainda hoje guardam atualidade.

Marighella é um patrimônio dos comunistas e das lutas populares no Brasil. Se depois deste período Marighella segue por searas que podem ser consideradas anti-leninistas e até anarquistas, derivando em equívocos organizativos e políticos, devemos máximo respeito a sua estatura intelectual e humana.

Considerado inimigo número 1 do regime, Marighella fundou a ALN, a partir principalmente do grupo paulista que rompeu com o Partidão. A organização realizou diversas ações, destacando-se o sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick, em setembro de 1969, que derivou na libertação de 15 presos políticos. Após esse evento, a repressão brasileira, em parceria com o imperialismo norte-americano, promoveu grande força-tarefa para capturar o revolucionário baiano.

Em 04 de novembro de 1969, mais de 40 policiais se envolveram em uma emboscada na Alameda Casa Branca, que levou à execução de Marighella. Morto pelo regime de exceção, Marighella foi eternizado como uma grande figura do movimento comunista internacional e sua obra ficou conhecida por milhares de militantes em todo o mundo.

Nenhuma visão moralista e paternalista do período pós-64 apagará o seu legado. Marighella vive, leiamos este notório baiano.

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