Mobilizando para desmobilizar

O movimento estudantil na retaguarda da greve

Por Guilherme Corona

No dia 15/04, em Assembleia Geral chamada pela Diretoria do DCE, o movimento estudantil da UFBA decidiu contra a greve estudantil e se colocou na retaguarda do movimento.

Em Assembleia Geral da ASSUFBA, sindicato dos servidores das Universidades Federais da Bahia, no dia 11/03, a categoria deflagrou greve com mais de 350 servidores presentes. Foi a primeira das três categorias da UFBA a deflagrar greve, antes mesmo do início do semestre 2024.1, inaugurando o movimento da Greve Nacional da Educação na Bahia.

Entre os docentes, o processo foi mais lento, pois a Assembleia da APUB, sindicato dos docentes da UFBA, UNILAB e UFOB, que ocorreu no dia 12/03, decretou um estado de mobilização permanente, adiando a greve. O sindicato somente declarou a greve no dia 25/04 em nova Assembleia. Vale ressaltar que essa deflagração foi feita apesar da Diretoria do sindicato e por forte pressão da base, que conseguiu manter a votação da greve e aprová-la.

Já no movimento estudantil (ME) da universidade a situação é ainda mais dramática, pois seus dirigentes, reunidos no DCE (Diretório central dos estudantes), somente no dia 05/04 convocaram uma reunião ampliada de Centros e Diretórios Acadêmicos (CAs e DAs) para organizar uma Assembleia Geral para o dia 15/04. Nesse contexto, é intrigante como as falas dessa direção, que declara não ter posição sobre a Greve Estudantil no momento, sejam sempre colocadas no sentido de apontar a responsabilidade e os riscos de uma possível adesão ao movimento grevista.

Então, nas duas semanas que antecederam a Assembleia, iniciou-se, por parte das forças que compõem a gestão, um acirrado movimento pela desmobilização. Então, nas duas semanas que antecederam a Assembleia, iniciou-se, por parte das forças que compõem a gestão, um acirrado movimento pela desmobilização. Seja na postura da campanha anti-greve explícita ou na postura de lavar as mãos, justificando-se numa suposta consciência atrasa do corpo estudantil, a responsabilidade frente aos interesses dos estudantes foi jogada pela janela. Isso é percebido claramente nas Assembleias de curso realizadas nessas duas semanas. Em ampla maioria, nas Assembleias dos CAs e DAs de forças que estão no DCE (Afronte, Levante, JPT, Quilombo e UJS), as votações foram amplamente contrárias à Greve Estudantil. Por outro lado, naquelas puxadas pela oposição, quando a greve não foi majoritária, perdeu por uma pequena margem. Mas em todas as Assembleias, o clima era o mesmo: os estudantes queriam lutar, mas tinham receio dos impactos de uma adesão ao movimento grevista. O diferencial era somente um: ter uma força política sem medo da luta à frente do processo.

Isso teria um desfecho preocupante na Assembleia Geral. Após duas mudanças de local e com uma estrutura precária, começaria o desenlace final da disputa sobre a greve. Para além da fala mentirosa da Vice-Diretoria Regional da UNE, alegando que a Greve Estudantil interromperia as políticas de permanência estudantil, foi uma Assembleia acirrada.

Enquanto o DCE defendia com unhas e dentes a não deflagração da greve, argumentando principalmente que isso atrasaria a conclusão dos mais pobres, dos que mais precisam se formar, como os Residentes. A oposição (Alicerce, JR, UJC, UJR e Pajeú) avançou na politização do debate, lembrando que o que impede ou atrasa a formação dos estudantes são as péssimas condições estruturais da Universidade e a falta de permanência estudantil.

Foi a oposição que apontou a condição precária dos institutos, faculdades e pavilhões, com infiltrações, mofo e tetos desabando. Foi a oposição que lembrou que a política de permanência estudantil da UFBA, por mais avançada que seja, não dá conta de todos os estudantes que se encaixam no critério socioeconômico. A oposição lembrou que, sem a Greve Estudantil, o ME não teria forças para lutar pela necessária Recomposição Orçamentária.

Não obstante, e talvez com receio de perder numa votação verdadeiramente democrática. O DCE encaminhou uma consulta online, rasgando o seu próprio Estatuto e deslegitimando completamente a Assembleia constituída. Parece que esqueceram que a tradição democrática do ME é de discutir e construir coletivamente, e não se confunde com a democracia liberal do voto puro e simples.

Mesmo assim, com uma votação completamente ilegítima e tendenciosa contra a greve, vez que os estudantes que não assistiram ao debate e já vinham enviesados anteriormente, não se convencer do contrário, a proposta da Greve Estudantil ainda conseguiu mais de ⅕ dos pouco mais de 3700 votos. Isso se deu principalmente pelo papel da oposição em mobilizar e lutar pela Greve.

O resultado foi realmente um suspiro de tranquilidade para a Diretoria da APUB, dirigida por uma das mesmas forças políticas que compõem a Diretoria do DCE. Poderiam debater a Greve Docente sem a pressão de uma Greve e Ocupação dos estudantes. Contudo, o tiro saiu pela culatra, a Greve Docente foi aprovada, e o ME saiu sem nada. Não se jogou na luta e nem pôde continuar na “normalidade”.

Diante do novo cenário, a Diretoria do DCE poderia dar um passo atrás e chamar uma nova Assembleia para rediscutir a Greve Estudantil. Mas a desmobilização não tem limites, pois com quase duas semanas de Greve Docente, não há nem data para uma próxima Assembleia Geral. A maioria das forças do DCE ainda se declara abertamente contra, dizendo que a Greve fora derrotada e que a oposição está demasiado desarticulada para dirigir o movimento pela base.

Para aumentar a comicidade da situação, a APG, Associação de Pós-Graduandos, da UFBA, teoricamente parte do DCE e com representação no Conselho de Entidades de Base e, portanto, parte do corpo estudantil, se reuniu no dia 08/05 e deflagrou greve para começar no dia seguinte. É a própria base do DCE se colocando contra a política reboquista da Diretoria, a exemplo do que foi feito pela base da APUB na UFOB.

Ao se colocar na retaguarda do movimento grevista, o ME abdica da sua principal arma para alcançar suas demandas: a sua auto-organização coletiva. Com isso, enfraquece a Greve Nacional da Educação, enfraquece o movimento grevista local, divide a base e desarma o corpo estudantil para futuras lutas.

Para sair deste lodo, a oposição deve se articular pela base e construir um movimento unificado que lute pela deflagração da Greve Estudantil, por um vigoroso processo de Assembleias, e que defenda a Recomposição Orçamentária como a pauta central capaz de unificar a luta e suprir as demandas das categorias. É hora de lutar por um projeto de educação, é hora de lutar por uma Universidade Popular!

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