Por Vanessa Freitas
Juventude e Auxílio Emergencial – De acordo com os dados levantados pelo Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE) ainda no ano de 2020, 6 a cada 10 jovens brasileiros fizeram cadastro para receber o Auxílio Emergencial Federal referente ao período pandêmico do ano passado – e, ainda segundo matéria publicada pelo Estadão neste mês de janeiro, 60% da população jovem teve como principal fonte de renda esta política. Os dados apontados evidenciam a realidade da juventude trabalhadora no Brasil: majoritariamente desempregada, sem renda e sem perspectiva de atuação profissional, muito menos de desenvolvimento de uma carreira.
Quando pensamos em emprego e carreira, pensamos em formação e qualificação profissional da juventude. Mas, no sistema vigente, a educação, tanto da rede básica quanto do ensino superior, opera como qualquer outra mercadoria: servindo para assegurar os interesses políticos e econômicos do grande capital. Por conseguinte, os jovens, quando conseguem acessar essa educação, são formados numa lógica mercadológica e tecnicista, ao mesmo tempo em que encontram cada vez menos postos de trabalho a serem ocupados em suas áreas de formação, compondo então mais e mais os índices de desemprego.
Vale mencionar que o índice de desemprego entre a juventude é maior que o índice total da população desempregada brasileira, que representou uma alta de 14,6% no terceiro trimestre de 2020. Segundo dados do IBGE, a diferença entre o grupo total e o de jovens é de 16,4 pontos percentuais.
As políticas neoliberais adotadas nos últimos anos nada mais são do que um desmonte sistemático de direitos a partir de uma série de privatizações e contrarreformas. Visando diminuir os custos estatais com a população, elas precarizam as relações de trabalho e as condições de vida de milhares de trabalhadores, o que reflete diretamente sobre a realidade da juventude pobre, jogada à informalidade. A chamada uberização do trabalho foi intensificada com as demissões durante a pandemia, e os jovens são os mais afetados, pois ocupam os postos mais desvalorizados e de baixa remuneração do mercado.
A crise sanitária causada pela COVID-19 atuou como agente catalisador de contradições que são inerentes ao modo de produção capitalista e ao seu processo de acumulação. Em períodos de recessão econômica, o lucro é salvaguardado em detrimento da vida; bilhões são destinados para o financiamento de bancos à serviço do mercado financeiro e seus especuladores, mas, segundo a falácia neoliberal, não existem recursos para assistir a população durante uma pandemia, onde fatalmente milhares de pessoas perderam seus empregos e não têm nenhuma outra alternativa para garantir sua renda.
O Auxílio Emergencial foi uma medida aplicada logo após a pandemia chegar ao Brasil, em abril de 2020, e desde então veio sendo o principal suprimento das necessidades básicas dos jovens e de suas famílias, muitas vezes sustentadas por eles. Entretanto, o fim da vigência do decreto que declarava estado de calamidade pública em nosso país ocasionou no fim do próprio Auxílio em dezembro do mesmo ano, significando uma redução drástica de recursos para políticas de assistência social e ações emergentes de saúde – sendo que a situação do Brasil não apenas se mantém calamitosa, como vem piorando desde novembro.
O não-prolongamento deste decreto desconsidera o agravamento da crise sanitária pelo coronavírus e o fato de que houve um grande aumento no número de contágios e mortos pela COVID-19, inclusive, como implicações da gestão genocida do governo Bolsonaro frente à pandemia. É preciso compreender que os efeitos da crise não devem ser custeados pela população trabalhadora em nome da santa política fiscal dos patrões. Atualmente, existem propostas para a prorrogação do Auxílio Emergencial Federal neste ano que entra, mas a sessão da Câmara que pode aprovar o orçamento para as novas parcelas está prevista apenas para 1º de fevereiro.
Diante do agravamento das medidas antipovo orquestradas pelo governo Bolsonaro e orientadas pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, é preciso defender de forma irredutível a extensão do Auxílio Emergencial até o fim da pandemia, a baixa do número de desempregados brasileiros e a saída do Brasil do mapa da fome. Não é possível acatar tal miséria que voltou a assolar tão vorazmente a maioria da população brasileira sem uma contra-ofensiva popular. Só a luta organizada é capaz de reverter essa situação, em moldes em que ela nunca mais se repita.