Por Guilherme Corona
Iniciada em setembro de 2020, a retomada das relações diplomáticas entre a Colômbia e a Venezuela alcança um novo patamar em janeiro com a abertura total da fronteira.
A história compartilhada entre a Colômbia e a Venezuela é de séculos, mas podemos retomar o evento histórico da libertação anticolonial e da fundação da Grã Colômbia, por Símon Bolívar, dentro do seu projeto libertador da Pátria Grande. Este país que unifica os territórios do que viriam a ser as nações colombiana e venezuelana não duraria muito tempo, seria logo desmembrada pelas disputas oligárquicas.
Desde então, os países vêm experimentando diferentes momentos em suas relações, marcados, principalmente, pela disputa fronteiriça e regional. Os governos oligárquicos nunca foram capazes de oferecer um projeto anti-imperialista que levasse adiante a integração regional, favorecendo a cooperação entre os povos latino-americanos e possibilitando um ponto de inflexão contra o imperialismo ianque.
Novos atritos viriam a surgir no governo Chávez, com a sua retomada do projeto bolivariano e revolucionário para a América Latina. As acusações de Uribe no âmbito da OEA, de que a Venezuela abrigaria guerrilheiros da FARC levaria ao rompimento das relações entre os países, em julho de 2010, sendo logo retomadas, em agosto, com a posse de Juan Manuel dos Santos, novo presidente colombiano.
Em 2018, começaria outra crise diplomática, iniciada com uma denúncia de Maduro, a qual vinculava Juan Manuel dos Santos a uma tentativa de ataque, e que seria coroada com o reconhecimento da Colômbia a Juan Guaidó como presidente da Venezuela, numa tentativa de golpe ao presidente Maduro e rompendo definitivamente as relações entre os países.
É com esta tentativa de golpe que se inicia um longo período de assédio, diplomático, econômico e militar ao governo Maduro, no qual o bloco imperialista, liderado pelos EUA, tenta de diversas formas retirar o presidente eleito do cargo, com bloqueios de fundos venezuelanos no estrangeiro, embargos, ensaios de operações militares com mercenários e uma ofensiva diplomática, facilitada pela onda de extrema-direita na América Latina.
Essa seria uma tentativa falha, que não consegue tirar Maduro do poder e vai se desgastando com o passar do tempo, sofrendo seus golpes finais com a retirada do apoio ianque a Guaidó, sua saída da presidência da Assembleia, e a retomada dos investimentos da Chevron na Venezuela, tudo isso seria facilitado pelas derrotas eleitorais da extrema-direita na vizinhança, o aumento dos preços do petróleo dado ao conflito russo ucraniano e a falta de apoio popular a deposição de Maduro.
E é nessa onda de vitórias eleitorais da social-democracia que entra Gustavo Petro, quebrando com a histórica governança direitista na Colômbia. Apesar de não ser nenhum comunista, a vitória de Petro abriu novos campos para a disputa popular na Colômbia, com iniciativas de pacificação do país, e a retomada de uma perspectiva de integração regional, no país que antes era tido como uma capitania ianque na América do Sul.
A retomada das relações entre a Colômbia e a Venezuela, iniciada em setembro de 2022, e que acaba de passar um grande marco no dia 1° de janeiro de 2023, com a abertura total da fronteira, é um passo à frente na reconstrução da independência latino-americana, tão danificada nas mãos da extrema-direita. Apesar de não abrirem caminhos para se pensar a Pátria Grande, Petro e Maduro poderão desempenhar um importante papel na integração regional, causando mais uma rachadura na hegemonia ianque.
Parece importante desenvolver com o governo colombiano, discussoes sobre a integracao latinoamericana. Instrumentos existem – CELAC, MERCOSUL, UNASUL. O trabalho politico precisa ser feito.