Por Marcela Carvallho
No último sábado de maio, a Bahia demarcou sua participação nas comemorações do Centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em uma noite de celebração. A festa se configurou a partir da expressão de múltiplas sinalizações de valorização da cultura enquanto campo de reafirmação da construção político-ideológica de grande importância aos comunistas.
A comemoração, buscou reivindicar a memória de figuras históricas como a da poetisa baiana Jacinta Passos, bem como aspectos da sensibilidade literária de Jorge Amado através da elaboração de grandes painéis e instalações que compuseram a decoração do espaço. Também foi destaque – em sua programação cultural – a dimensão crítica das artes plásticas, da poesia e da música enquanto linguagens referenciais à conformação de um campo de reflexões estéticas que inundam o ambiente partidário do PCB.
Nesse sentido, cabe destacar a exposição do trabalho da artista plástica e militante Inês Melgaço, com sua tela Narciso (1995), na qual identifica, na sua apreensão da realidade objetiva, a crítica à construção do sujeito e de sua subjetividade na sociedade capitalista. Evidenciou-se, também, a lírica do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht através da declamação do poema “Aos que virão depois de nós”: aqui, a dimensão épica do teatro político brechtiano incorre na denúncia da violência e do declínio da experiência humana frente à ruptura escancarada do Sistema Terra, que se dá na expansão do capitalismo contemporâneo, colocando em questão o próprio drama intersubjetivo do ser social.
Em 100 anos do Partido Comunista Brasileiro, como já fora mencionado em texto anterior publicado neste jornal, a construção das proposições político-culturais a partir do instrumento partidário esteve marcadamente vinculada ao “processo de tentativa de superação do prussianismo em direção ao nacional popular”¹, que, contudo, se debruçava, em certa medida, sobre a reprodução de uma “cultura ornamental”. Esta reflexão, levantada pela Mesa de debate “Pela Reativação da Política Cultural dos Comunistas”, realizada nesta mesma celebração, diz não apenas sobre a “criação de um sujeito nacional-popular que trouxesse em seu âmago as demandas da classes populares a partir de um contínuo processo de democratização”², questão de suma importância que permeia as formulações do partido enquanto aparato político-cultural, mas também da estruturação de um roteiro ampliado capaz de difundir criticamente a cultura popular à medida que, enquanto comunistas, vencemos algumas “pechas” que a indústria cultural capitalista impõe. Levando isto em consideração, a celebração contou com o potencial emancipador da arte através das contribuições musicais do militante, rapper, jornalista e compositor, TAS MC e do grupo Canzua Capoeira Angola.
Sob este contexto, cabe a nós, enquanto comunistas, a tematização da cultura enquanto dimensão específica e porque não, irredutível na emancipação do ser social. Retomar a vida cultural do PCB com vitalidade, de modo que seja possível vislumbrar o caráter crítico das manifestações político-artísticas, evoca mais que a superação dos tensionamentos retratados historicamente que dizem de uma “politização da cultura” ausente de reflexão que acaba por reforçar a paralisia da arte, mas diz sobretudo, da ressonância e influência política que a vida cultural pode e deve enunciar a cultura brasileira como sempre se apresentou o PCB ao longo destes cem anos.
Notas:
¹ Caires, Rômulo. 2022.Os comunistas brasileiros e a política cultural no período da Ditadura. O Momento, Diário do Povo. 11 de maio de 2022.
² Idem.
faltou falar da melhor parte = pagofunk no final kkkkk