Por Caroline Birrer – militante do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (PCB)
No dia 4 de dezembro, fomos às ruas gritar “Bolsonaro nunca mais”, como parte do calendário de luta dos 21 Dias de Ativismo no Combate à Violência Contra a Mulher e da Campanha pelo Fora Bolsonaro. Estivemos presentes construindo o bloco do Poder Popular e agitando contra a fome, o desemprego, as privatizações, as reformas administrativas e da previdência, o teto dos gastos, a irresponsável má conduta frente à pandemia de COVID-19 e pelo Fora Bolsonaro e Mourão.
Ainda que se trate de uma agenda do movimento feminista, é tarefa central apontar como vivemos um momento de aprofundamento das mazelas produzidas pelo sistema capitalista. A atual conjuntura afeta drasticamente a vida das trabalhadoras e dos trabalhadores. Além disso, a mobilização de dezembro também foi momento de denunciar o programa econômico de Bolsonaro e Paulo Guedes como responsável pela carestia, alta dos preços, privatizações, destruição do serviço público, fome, pelo alinhamento do governo federal com o projeto da grande burguesia nacional e internacional e como isso impacta nas nossas vidas.
Durante a pandemia, as desigualdades, já existentes e inerentes ao sistema capitalista, tornaram-se ainda mais evidentes e abissais. Chegamos à marca de 8,5 milhões de mulheres que perderam seus empregos, 116 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar e 19 milhões que passam fome. Nesse cenário, as mulheres negras são o setor da classe trabalhadora mais duramente atingido; são elas as chefes dos lares com maior insegurança alimentar.
Precisamos falar ainda do número de casos de violência doméstica, que também subiu a níveis absurdos durante a pandemia. Enquanto as estatísticas de violência de gênero avançam para as mulheres brancas, para as mulheres negras, trans e travestis só pioram, pois são as mais afetadas. Apesar de tudo isso, o governo de Bolsonaro e Mourão segue comprometido com a retirada de direitos da classe trabalhadora, o extermínio da população negra, o avanço das desigualdades de gênero e o lucro da classe dominante.
Ao passo em que a situação de nossa classe só piorou, temos o aumento da riqueza da classe dominante no Brasil e lucros extraordinários para os bancos e o agronegócio. O governo Bolsonaro seguiu a agenda neoliberal imposta ao Brasil à risca, e junto ao seu negacionismo e Estado policialesco, promoveu o genocídio de nossa classe. Exemplo disso é a cidade de Salvador, onde 100% dos assassinados pela polícia em 2020 foram pessoas negras, segundo levantamento da Rede de Observatórios da Segurança. Marchar contra Bolsonaro precisa ser marchar também contra todos os setores da classe dominante que o financiam e propiciaram sua chegada e manutenção no poder.
Os atos do dia 4 já foram marcados pela disputa eleitoral no Brasil. Muitos setores que compunham as mobilizações estão alinhados com a pauta eleitoral para a disputa contra Bolsonaro apenas nas vias institucionais. Precisamos estar atentos! A luta contra Bolsonaro precisa se dar com a organização da classe trabalhadora e precisa perpassar as ruas e a organização nos locais de trabalho e moradia. Apenas retirar Bolsonaro e Mourão, mantendo o projeto neoliberal de austeridade e exploração, não vai trazer qualquer melhora para a vida de nossa classe. É fundamental revogar o teto de gastos e as contrarreformas da previdência e trabalhista; também precisamos impedir a reforma administrativa e avançar no combate contra a fome e a carestia na promoção de empregos e salários decentes.
Um projeto contra Bolsonaro e Mourão, mas aliado a setores da classe dominante, ao agronegócio e aos setores conservadores, não é uma saída – é uma armadilha.