Por Camila Oliver
À memória de João Falcão – João da Costa Falcão nasceu no sertão da Bahia, em Feira de Santana, no dia 24 de novembro de 1919. Filho do usineiro João Marinho Falcão e de Adnil da Costa Falcão, casou-se com Hildete Ferreira Falcão, com quem teve sete filhos, vinte e um netos e onze bisnetos.
Em 1938, após contato com Arruda Câmara, passou a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB), no qual atuou clandestinamente contra o governo Getúlio Vargas, motivo pelo qual foi preso e precisou exilar-se na Argentina.
Neste mesmo ano, participou com Armênio Guedes, Emo Duarte, Virgidal Sena, Eduardo Guimarães e Diógenes Arruda, da fundação da revista antifascista Seiva, que dirigiu até 1943, quando ela foi fechada pelo DIP no governo de Getúlio Vargas, ressurgindo em 1950 e encerrando as suas atividades em 1952. A revista Seiva foi a primeira publicação nacional antifascista dirigida pelo PCB. Ainda em 1938, João Falcão ingressou na Faculdade Livre de Direito, em Salvador, tornando-se bacharel em 1942.
Em 1945, já tendo retornado do exílio, foi fundador e diretor do jornal O Momento, o qual tinha sede em Salvador, na Av. Sete de Setembro (Ladeira de São Bento) nº 16, e foi criado e mantido por jovens comunistas baianos, dentre outros, Aristeu Nogueira, João Falcão, Alberto Passos Guimarães, Boanerges Alves Dias, Almir Matos, João Batista de Lima e Silva, Armênio Guedes, Mário Alves. O Momento sofreu várias perseguições, incluindo dois empastelamentos. O primeiro, em maio de 1947, liderado por um capitão do Exército e o segundo em 1953, organizado pela polícia. No dia 31 de julho de 1953, a polícia invadiu e interditou a sede do jornal, apreendeu as máquinas e realizou prisões, sendo instaurado um inquérito. O jornal continuou sendo publicado, contudo, em formato pequeno e depois conseguiu judicialmente a desinterdição. Manteve o seu funcionamento ainda por mais de quatro anos, todavia, em condições cada vez mais precárias e com tiragens cada vez mais reduzidas.
Com o fim do Estado Novo e a redemocratização do país, João Falcão candidatou-se à Câmara dos Deputados na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB) junto com Carlos Marighella.
Com a volta do PCB à ilegalidade, em 1947, mudou-se para o Rio, onde passou a militar mais uma vez na clandestinidade. Tornou-se o responsável pela segurança do líder comunista Luís Carlos Prestes até 1950, quando voltou para Salvador (BA). Ao retornar à Bahia, passou a exercer a profissão de advogado. Em seguida, fundou a Imobiliária Antônio Ferreira de Sousa Ltda.
Elegeu-se suplente de deputado federal pela Bahia na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 1954, assumindo o lugar de titular entre abril de 1955 e janeiro de 1956, quando Eduardo Catalão (então titular) assumiu a Secretaria de Agricultura.
Em 1958, fundou o Jornal da Bahia, periódico que se opunha à ditadura militar instaurada no Brasil a partir do golpe de 1964, e ao político baiano Antônio Carlos Magalhães (governador da Bahia nos períodos de 1971 a 1975, de 1979 a 1983 e de 1981 a 1984). No período compreendido entre 1969 e 1972, o jornal foi duramente perseguido pelo então governador Antônio Carlos Magalhães, que usou meios jurídicos para desmantelá-lo, aproveitando-se do cenário político promovido pelo AI-5. Todavia, a linha editorial do periódico permaneceu a mesma. João Falcão esteve na direção desta publicação até 1984. No ano seguinte, participou da fundação da Comissão Econômica de Planejamento da Bahia. Em 1960, fundou o Banco Baiano da Produção S.A. Foi também um dos fundadores, em 1967, do Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia, exercendo a presidência da instituição entre 1968 e 1970.
Integrou o conselho consultivo da Usina Siderúrgica da Bahia (Usiba) e a Associação Baiana de Imprensa e a Associação dos Bancos da Bahia. Presidiu o Museu Regional do Couro de Feira de Santana e associou-se à Associação Baiana de Imprensa e à Associação Brasileira de Imprensa. Em 2010, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras.
Dentre as suas publicações estão: O Partido Comunista que eu conheci (1988), A vida de João Marinho Falcão (1993), A vida de um revolucionário: Giocondo Dias (1993), O Brasil e a Segunda Guerra Mundial (1999), A dona da história (2004), em co-autoria com Daniel Filho e João Emanuel Carneiro, Não deixe esta chama se apagar: História do Jornal da Bahia (2006), e Valeu a pena: Desafios de Minha Vida (2009).
Faleceu em Salvador, aos 92 anos, em 27 de julho de 2011, de falência múltipla dos órgãos causada por uma bronquite que, posteriormente, converteu-se numa pneumonia, após trabalhar com documentos antigos na perspectiva de escrever uma biografia de Prestes.