Por Milton Pinheiro, transcrito por Guilherme Corona
O Momento: Na história do tempo presente, temos passado por muitas lutas políticas e religiosas na África e no Oriente Médio. Como o senhor examina essa situação?
Sheik Alhaji: Essa história, a visão da nossa religião islâmica que está crescendo e está escrito que vai crescer, na verdade, a quantidade não nos interessa muito. O que a gente está olhando é a qualidade. Se está chegando a dois bilhões no mundo hoje, a gente quer que a maioria siga essas regras que abrange a vida social, a vida moral, a vida política, a vida familiar, para um mundo melhor. Está entrando na África, no Oriente Médio e no mundo inteiro. A situação é essa, o islã não está na mão de ninguém. A gente está fazendo a nossa parte e só. Na visão do muçulmano, Deus é dono dessa religião e já prometeu que vai crescer bastante. Eu sou líder aqui na Bahia, como cada centro islâmico ou mesquita tem que ter um líder que dirige, esse líder tem que estudar o que pode, o que não pode, o que deve, o que não deve, para não acontecer essa barbaridade que está acontecendo em algumas partes do mundo. Porque o islã não tem outro nome que não a paz, a tranquilidade para fazer alguma coisa por um mundo melhor, preservar e proteger a vida, seja muçulmano ou não.
OM: O senhor é um líder espiritual de uma religião com muitos adeptos pelo mundo. Como foi seu processo de conversão ao Islamismo?
SA: Claro, meus pais são muçulmanos. Eu nasci como muçulmano. Então, quando a criança nasce como muçulmano, não precisa converter. Meus pais colocaram me colocaram um nome muçulmano. Quando cresci, eu percebi que essa era a religião que eu queria para a minha vida.
OM: Como examina as lutas por autodeterminação dos povos da África e do Oriente Médio, em especial a resistência palestina em defesa de seu território e contra a tentativa de extermínio?
A luta no mundo, não somente na África e no Oriente Médio, ou da Palestina. A gente sabe essa luta é uma luta mundial. Não é só uma luta de palestinos, mas uma luta da humanidade, porque o islã disse que o direito de cada um. Eu sou homem da paz, como minha religião islâmica me ensinou. Isso não quer dizer que tenho que entregar todos os meus direitos para outros, que quem tem poder maior domina tudo. Não tem nada a ver. Eu tenho que buscar preservar as coisas, pois essa é a linha. Isso que está acontecendo no mundo hoje é a dominação. O islã condena, porque Deus não criou ninguém para escravizar os outros ou para dominar os outros. Todos nós somos seres humanos. Pode ser branco, pode ser negro, pode ser homem, pode ser mulher, pode ser o rico ou pobre, mas todos nós temos um nome só como ser humano. Então, a gente tem que respeitar isso. Por isso a luta mundial hoje para conseguirmos o que merecemos, o que é da gente, sem ficar calado, mas de maneira pacífica.
SA: O centro cultural e religioso que o senhor coordena na Bahia tem prestado solidariedade ao povo palestino de que forma?
Aqui, já saímos duas vezes em solidariedade ao povo palestino. O mundo está gritando pela paz, para que eles consigam os direitos deles, a terra é deles. Todos os países têm as coisas deles Como país, por que ela [a Palestina] não vai ter? Por isso a gente está saindo em passeata, às vezes, mas todo dia pedimos orientação de Deus, oramos para ele, para que ele olhe para o povo palestino, para que eles consigam preservar as coisas e para que eles consigam as coisas que, como um país, é o direito social e material deles, entendeu? Não é porque outro país tem poder que vai dominar eles 100%, porque isso é errado e o mundo tem que saber isso.
OM: A Bahia é um estado de população majoritariamente negra e muito rica por suas matrizes religiosas. O Islamismo tem se desenvolvido de que forma por aqui na Bahia?
SA: A Bahia é um estado de população negra e muito rica por suas matrizes. [O islamismo] tem se desenvolvido de uma forma boa aqui. Então, aqui é ótimo para praticar nossa religião. O Brasil é bom para isso, principalmente a Bahia. O que a minha religião está dizendo é que tem que respeitar toda religião que existe. Isso que a gente está fazendo aqui na Bahia é união comum. Muçulmano, cristão, católica, judeu, povo de Candomblé, para dizer que somos um só a frente de Deus. Cada um tem a sua religião e está praticando. O objetivo principal é respeitar, dizendo que é possível a convivência e a paz para um mundo melhor. É isso que dizem todas as religiões.
OM: Quais são as ações de defesa social e religiosa que o Centro Cultural Islâmico da Bahia desenvolve?
SA: Aqui, o Centro Cultural Islâmico da Bahia, como falei para vocês, não tem outro objetivo que não seja a paz. Quem aderir a essa religião [o islã] tem que ser uma pessoa da paz. Homem da paz, mulher da paz para construir um mundo melhor. Isso que o islã quer. Então, todas as regras do islamismo, a oração, a caridade, o jejum, é tudo em nome da paz. Abrangemos o mundo para dizer que é possível a convivência pela paz. Não precisa esconder a religião porque a religião islâmica é a religião da paz.
OM: A nossa época histórica tem debatido algumas questões que são muito importantes. Como o senhor vê a questão da mulher no Islamismo e como analisa o racismo na Bahia e no Brasil?
SA: Bom, o islã é a religião para todos, homens e mulheres, o islã condena totalmente o que se chama de racismo. Não importa entre homem ou mulher, todos nós temos lugares no mundo. O mundo é de Deus e é grande demais. Brancos, negros, homens, mulheres, todos foram criados por um homem e uma mulher que se chamavam Adão e Eva. Existe um versículo nosso no Alcorão que Deus disse que criamos você como homem, como mulher, como nação e como tribo, para que uns conheçam os outros. O melhor é aquele que está pronto para fazer o bem. No primeiro lugar, respeitar todo mundo. Essas perguntas são bem-vindas, mas o islã não tem resposta para tudo.