Por Vitor Barros
Demissões em massa, aumento de mensalidades, salas superlotadas, precarização do ensino e sua expansão à distância (EAD), dificuldade de permanência, endividamento, baixíssimo incentivo à pesquisa… São essas as condições que a maior parte dos estudantes brasileiros do ensino superior sentem na pele ao se matricularem em uma universidade privada. As Instituições de Ensino Superior privadas (IES) concentram 76,9%[1] das matrículas de todo o país. Sua expansão se deu principalmente em função de investimentos públicos altíssimos na educação privada através de projetos como PROUNI e FIES e, em contraponto, investimentos muito inferiores na expansão das IES públicas.
Isso fez com que gigantescos grupos educacionais não só surgissem, como se tornassem verdadeiros monopólios universitários. A título de exemplo, temos os grupos Króton, Ânima, Estácio e Ser Educacional. Basta observar que a rede privada cresceu 86% de 2011 a 2021, em detrimento de apenas 0,3% da rede pública no mesmo período. Já vimos em matéria anterior que o modelo do capital para a educação é fundado na expansão dos lucros, corte de gastos e uma visão da educação como mercadoria, sendo incapaz de articular satisfatoriamente o tripé ensino, pesquisa e extensão. Assim, é fabricada a necessidade do ensino privado, que tem sua razão de existir no forçado fracasso do ensino público, gerado a partir de sua insuficiência quantitativa e qualitativa[1]. Ironicamente, é essa mesma insuficiência qualitativa que podemos observar nas IES privadas, em especial àquelas vinculadas aos grupos educacionais supramencionados, visto que sua expansão quantitativa é inversamente proporcional à qualidade de seu ensino.
Ademais, se constatarmos que a quase totalidade (entre 95-99%) da pesquisa científica realizada no Brasil é desenvolvida por universidades públicas, pode-se concluir, portanto, que as IES privadas não passam de parasitas da educação brasileira.
A produção de ciência é instrumento central para o aprofundamento do conhecimento, da garantia da soberania de um país, de seu desenvolvimento econômico e tecnológico, capaz de dar respostas aos problemas e melhorar a vida da classe trabalhadora. O que se percebe é que estes são interesses absolutamente contrários ao setor privado. Afinal, seu único compromisso é com o lucro, muito grande, no bolso de poucos empresários, às custas de um modelo abominável de ensino, em que os prejudicados são os alunos, funcionários (via de regra terceirizados) e professores com contratos precários.
Além disso, é notório, como forma de legitimar a expansão das universidades privadas, o papel de tutela exercido na educação brasileira por organizações representantes dos interesses do imperialismo, como o FMI e o Banco Mundial. Sob a mentira do interesse em “modernizar” nossa educação, buscam abrir espaço para que capitais multinacionais adentrem e promovam um modelo neoliberal de educação, totalmente avesso a uma educação popular e emancipatória. Consoante com sua proposta, a ideologia neoliberal cumpre a função de mascarar as contradições sociais geradas pelo capitalismo, a partir da responsabilização individual dos sujeitos por problemas de ordem social. O desemprego ao concluir um curso, a incapacidade de custear os estudos, o desgaste emocional, como exemplo, são diariamente reforçados, falsamente, como questões individuais, relacionadas ao esforço e mérito de cada um em se fazer apto a resolvê-los. Dessa forma, a universidade privada legitima a ordem dominante, ao mesmo tempo que é por ela legitimada, o que, em última instância, busca limitar qualquer perspectiva anticapitalista que questione o poder destes monopólios e a posição humilhante em que submetem a classe trabalhadora nas universidades.
Por fim, é preciso que se afirme, a fim de construir um horizonte digno e livre dos monopólios da educação, que defendemos a estatização total do ensino superior, em defesa da Universidade Popular, gerida e atuante no interesse da classe trabalhadora na direção do socialismo. Portanto, resta-nos entender como construir e alcançar os objetivos dessa luta, bem como conhecer seus precedentes, que serão aprofundados em um próximo artigo.
REFERÊNCIAS:
1 – Maria Luiza Souza Ribeiro- Memórias: a Luta Pelo Ensino Público e Gratuito Numa Universidade Particular – a PUCSP