Por Ane Oiticica e João Abreu
No dia 4 de outubro, os serviços online do Whatsapp, Facebook e Instagram – todos pertencentes ao Meta (novo nome do Facebook) – passaram cerca de 6 horas fora do ar, impactando a comunicação de milhares de pessoas que construíram, ao longo dos últimos anos, uma relação de dependência dessas plataformas. Dependência, não só para relacionar-se com amigos e familiares, mas também para se comunicar remotamente com suas equipes de trabalho ou para prestar serviços e vender produtos. Em resumo, o trabalhador encontra-se cada vez mais refém do imperialismo para intermediar suas relações e o seu sustento.
É de amplo conhecimento o acesso que os grandes conglomerados de tecnologia têm das informações pessoais dos seus usuários. Desde aniversários, gosto musical, lugares que visita, até perfil de consumo e orientação política. Enquanto reverberam aos quatro cantos que suas redes são gratuitas, vendem estas informações a peso de ouro para empresas como a Cambridge Analytica, que trabalhou ativamente para a ascensão da extrema direita ao redor do mundo. Através de análise de dados, algoritmos e entrega de conteúdo, disputam as narrativas, manipulando a opinião pública e influenciando diversos processos políticos, incluindo as eleições no Brasil em 2018.
Não é de hoje que as disputas de narrativa são importantes para a construção e consolidação do poder. Desde que registramos a história, grupos dominantes favorecem narrativas que os privilegiam, as ensinam em suas escolas, publicam em seus livros e as transformam em “verdade”. O imperialismo perpetua-se no poder financiando autores, conglomerados de mídia e agências de notícias. A grande produção audiovisual americana é um dos vários exemplos de propaganda imperialista: milhares de obras que exaltam personas estadunidenses como heróis e os EUA como centro do mundo, assim como antagonistas que estruturam o imaginário comum da figura do inimigo. Incluímos aqui, as grandes plataformas de streaming como Netflix, Prime Video, HBO Max, entre outras, em que o povo brasileiro está financiando diretamente a indústria cultural e propagandista americana.
O episódio da pane nas redes sociais nos serve para mostrar que uma das nossas tarefas, enquanto militantes comunistas, é criar alternativas às redes de comunicação do imperialismo para disputar esses espaços. Nos dias de hoje, a missão de construir uma hegemonia cultural para disputar a narrativa imperialista inclui também pensar não só em educação, literatura, arte e mídia, mas também os espaços nas redes, que fazem parte da rotina e da formação de uma cosmovisão de parte crescente do nosso povo.
Não existe projeto de soberania nacional em que as comunicações e a cultura de um país estão atreladas ao capital estadunidense. Logo, o Brasil encontra-se num espaço de sub soberania. Construir a revolução hoje em dia inclui a retomada de toda estrutura de telecomunicações, que atualmente pertencem ao capital estrangeiro, nacionalização da produção de eletrônicos e construção de alternativas às plataformas online de comunicação.