Por João Aguiar
O Vírus na Bahia: Por Onde Vem? – Ao ultrapassar os 300 mil mortos pela Covid-19 o mote oficial das campanhas de prevenção contra a proliferação do vírus continua a ser responsabilização da população. Nas declarações oficiais do prefeito Bruno Reis (DEM) e do governador Rui Costa (PT), as medidas restritivas de fechamento do comércio e do Lockdown têm sido apresentadas para evitar a circulação de pessoas e evitar aglomerações de festejos, que possam ser novos focos de contaminação. A disponibilização do aparato da polícia militar para poder conduzir a prisão em flagrante, também tem aumentado a presença ostensiva nos bairros das periferias baianas e pequenas cidades do interior.
Como noticiado no portal UOL, no primeiro dia das medidas de restrição 12 pessoas foram presas no interior e 5 em Salvador, sendo que todas prisões na capital foram em bairros da periferia. Também foi realizada a prisão de um trabalhador ambulante no Aeroporto no dia 26, conduzido à delegacia. Essas ações são alimentadas pelo sensacionalismo dos programas policiais, que já elegem os culpados: os paredões e carros de som nas periferias como epicentro das contaminações, ou as praias lotadas pelas classes populares. Inclusive, entender que se estes espaços concentram aglutinações após um ano de pandemia e centenas de milhares de mortos, é resultado da flexibilização que o Governo de Bolsonaro vem incentivando de forma sistemática, com a complacência ou sem firme oposição dos governos estaduais e municipais.
Mesmo com as medidas de restrição a bares e restaurantes, a festejos e casas de show, os ônibus e estações de metrô continuam a estar superlotados. Segundo a SEMOB, durante a pandemia em média 451 mil pessoas circulam no transporte público da capital baiana². O grande capital depende da circu-lação de trabalhadores para manter suas taxas de lucro e garantir a salvaguarda econômico, mesmo que a custo do risco de suas vidas. Como vêm denunciado diversos sindicatos de trabalhadores como os rodoviários, categoria largamente exposta no seu cotidiano de trabalho ao contágio da Covid-19 e que já foi fatalizada com mortes relacionadas a crise do transporte público, as quais empresas não ga-rantem mínimas condições sanitárias, motivações que tem levado a categoria a diversas paralizações durante a pandemia.
Categorias como bancários, operários da construção civil e da indústria do polo petroquímico colecio-nam denúncias por mortes pelo vírus, cuja contaminação se dá pela exposição no espaço de trabalho, somada as longas jornadas, assédio e precarização de direitos. Somente na Caixa Federal, que vem sofrendo duras investidas de privatização por parte do governo Bolsonaro-Mourão, 40 trabalhadores morreram³ em decorrência da Covid-19.
O Brasil já está na casa de 12 milhões de contaminações. Engrossando a cada dia o número de mortes pela Covid – ainda que se estime o número de óbitos poder ser bem maior do que os divulgados pelos dados oficiais. Mesmo assim, há uma população que está sendo empurrada pela fome ou o desemprego. Recentemente, ela teve o auxílio emergencial cortado de seu valor original de R$ 600,00 reais. A falta de política econômica garantidora da possibilidade de estar dentro de casa obriga, mesmo sobre o risco do contágio e morte, os trabalhadores irem para a rua.
Não são as praias ou a juventude da periferia responsáveis pela disseminação do vírus. É a necessidade da burguesia garantir seus lucros. Só garantiremos que os trabalhadores fiquem em casa com a garantia integral dos direitos fundamentais como a moradia, a comida, salários e a retomada do auxílio emergencial para toda população trabalhadora. É necessário a revogação da PEC 241/55, que confinam o investimento de maior capacidade do SUS e dos serviços de assistência social para a Pandemia, a reversão de todas as privatizações em curso e o congelamento dos salários, mas sobretudo um plano de vacinação em massa imediato. Sem essas condições básicas não teremos a capacidade de enfren-tar a pandemia e salvar outras milhares de vidas. Menos que isso é compactuar com o genocídio em curso operado pelo Governo Bolsonaro-Mourão e a serviço da burguesa brasileira.