Por Henrique Oliveira
Segundo os dados do Monitor da Violência, o número de pessoas mortas em ações policiais cresceram 7% no primeiro semestre de 2020, quando comparado ao ano passado, mesmo com a pandemia e a adoção de medidas de distanciamento social. Ao todo, 3.148 pessoas foram mortas em todo o Brasil por intervenção policial entre janeiro e junho. Numa análise de morte por 100 mil habitantes, o estado do Amapá teve a maior alta com 8,1%, seguido do estado de Sergipe com 4,6 %, Rio de Janeiro com 4,5%, Bahia com 3,4% e o Pará com 3%.
Em 2019, a polícia baiana ocupou o sexto lugar em letalidade policial, matando mais pessoas proporcionalmente do que as polícias de estados como Minas Gerais e São Paulo, que tem uma população superior ao estado da Bahia.
De uma forma geral os crimes letais contra a vida voltaram a subir no Brasil, após uma trajetória de redução nas mortes registradas em 2018 e 2019. Entre janeiro e junho de 2020, 22.680 mortes aconteceram no Brasil, um aumento de 6%. Essa alta na taxa de homicídios ficou por conta de seis estados do Nordeste: Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Como consta no levantamento “Racismo, Motor da Violência”, feito pela Rede de Observatórios da Segurança, durante junho de 2019 e maio de 2020, a polícia baiana foi a segunda mais letal do país. Perdendo apenas para a polícia do Rio de Janeiro, nesse período, as ações policiais terminaram com 260 mortos. A letalidade policial é caracterizada pela concentração de mortos numa única ação, que muitas vezes terminam com 2, 3 ou mais pessoas vitimadas. São ações que ocorrem principalmente nos bairros pobres e de maioria negra, a exemplo do último mês de agosto, em que 4 homens foram mortos no bairro de Saramadaia e 5 em São Gonçalo do Retiro, em Salvador.
Mesmo na pandemia, em que foram fechados os grandes centros comerciais, escolas, praias, pela necessidade de distanciamento e isolamento social, as ações letais não reduziram. Segundo a polícia, essas mortes aconteceram em confrontos com suspeitos de tráfico de drogas. A política de segurança pública baiana é focada na chamada “guerra às drogas”, que na prática se converte numa guerra contra os trabalhadores negros e pobres. Não à toa, 75% das pessoas mortas pela polícia no Brasil são negras. Até quando se quer impedir a aglomeração em nome da saúde pública, a repressão policial tem recaído mais sobre os chamados “paredões”, se tornando mais um pretexto para a criminalização da pobreza e o racismo.