Por Rafaela Fraga
“Basta de miséria, preconceito e repressão! Queremos trabalho, terra, teto e participação!”. É com esse lema que, em 2020, pelo 26º ano consecutivo, o Grito dos Excluídos convoca o Brasil e a Bahia a participar desse espaço de denúncia, luta e reivindicações, que culmina anualmente no cortejo popular do 7 de setembro.
O Grito dos Excluídos surgiu em 1994, como resultado da 2ª Semana Social Brasileira – evento da histórica Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Após intensos debates, cujo tema central era “A fraternidade e os Excluídos”, a proposição objetivou promover uma integração entre os mais diversos setores da sociedade civil, de modo que se congregasse as lutas sociais num grito unificado, ecoado em todo o país.
O cortejo ganhou as ruas pela primeira vez em 1995, sendo incorporado à agenda da CNBB já em 1996. Há 26 anos, o Grito dos Excluídos se tornou um marco popular brasileiro, desde seu primeiro ano se propondo a ser uma elaboração totalmente ampla e participativa. Hoje conta com Coordenações Locais e Regionais, Secretaria Nacional e Coordenação Nacional – composta por cerca de 20 organizações políticas de diversos segmentos, como o do movimento por moradia e do religioso.
A organização do Grito o descreve como processual, que não se resume a um evento no dia 7/09 de cada ano, mas se configura como um complexo de atividades lúdicas e políticas, geralmente concentradas nos bairros periféricos, que variam entre romarias, abaixo-assinados, semanas de formação, fóruns temáticos, celebrações locais, espaços infanto-juvenis, dentre muitas outras manifestações possíveis, que se adequem à realidade e à cultura de cada região.
Indo além da estrutura organizativa, é impossível falar de Grito dos Excluídos sem pensar no seu teor contestador: a culminância desse longo processo ocorre no dia da Independência do Brasil não por acaso, mas como forma de questionar diretamente seu caráter. Debater sobre o sistema capitalista e seus efeitos devastadores, sobre a soberania nacional e sobre a privatização dos recursos naturais são alguns dos eixos indispensáveis no programa nacional do Grito.
Apesar do tema fixo, “ Vida em primeiro lugar”, a cada ano o lema se renova numa perspectiva crítica e questionadora. No ano passado, por exemplo, o lema foi: “Este sistema não Vale! Lutamos por justiça, direitos e liberdade”. Já em 2017, conclamaram: “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”. E ainda, em 2013, ano de fortes mobilizações nas ruas de todo o Brasil, o Grito convocou os excluídos sob o lema: “Juventude que ousa lutar, constrói o projeto popular”.
Em 2020, o mundo enfrenta a COVID-19, motivo pelo qual, na Bahia, não se sairá às ruas. Por isso, a organização do Grito propõe alternativas de mobilização que respeitem o distanciamento físico, mas siga cumprindo seu papel social. Dentre outras, estão o Dia D de mobilizações, que se consistiu numa ação de divulgação e debate nas redes sociais nos dias 7 dos meses anteriores a Setembro; além de uma programação virtual na culminância do Dia da Pátria, dessa vez mais concentrada, com iniciativas diversas de Associações de Moradores, Sindicatos, Organizações religiosas, Organizações políticas, Parlamentares, além da própria CNBB.
Apesar das adversidades que a pandemia e seus trágicos desdobramentos impuseram à vida dos trabalhadores, o Grito segue altivo e forte para ecoar a luta e reivindicar a garantia dos direitos à vida e à dignidade humana de todos os excluídos desse Brasil.