Espaço Cultural – Exposição Guerra Pura e a arte marginal em Salvador

Por Wenderson Silva e Gabriel Galego

Do dia 26 de fevereiro ao dia 11 de março tivemos a exposição “Guerra Pura”, que reuniu pinturas, esculturas, performances, projeção visual e paisagens sonoras produzidas em Salvador por diversos artistas nordestinos.

A expressão “Guerra Pura” é um conceito cunhado pelo autor e ativista Hakim Bey, que faz referência a uma forma de resistência cultural e social. Em seu livro “Taz – Zona Autônoma Temporária”, Bey defende a criação de espaços temporários e autônomos onde indivíduos possam viver e experimentar modos de vidas, que escapem às normas e imposições do “sistema dominante”.

A exposição, apesar de não se limitar ao universo do Hip-hop, é fortemente influenciado pela cultura, especialmente no elemento do rap e do grafiti. Grande parte das pinturas expostas eram grafitis e carregaram a exaltação cultural da cultura negra,  periférica e marginalizada.

Notamos isso na produção artística de Vírus Carinhoso, um dos jovens artistas mais talentosos de Salvador, que além das pinturas, esculturas e performance com a feitura ao vivo de uma vestimenta a partir de um grafitti coletivo, também cantou algumas de suas músicas que tratam sobre a marginalização da música e cultura negra.

Entre as esculturas, destacamos a obra “Sem título” (2023) do artista QUARCK, em que com materiais recicláveis, traz uma representação do mapa-múndi que podemos interpretar como uma crítica ao colonialismo, divisão internacional e racial do trabalho, que leva milhares de etnias e povos a miséria enquanto enriquece nações da metrópole capitalista.

 

Artista: QUARCK – “Sem título” 2023

 

Outra escultura que nos chamou atenção foi a obra “A flor de trombeta” (2023), do artista VIVÃO. Remetendo a uma situação ritualística, vemos três velas amarelas de sete dias dispostas numa mesa em formato triangular, com uma flor de trombeta no centro. A flor de trombeta, além de seus usos medicinais, também tem seu uso reconhecido por diversos povos tradicionais da América do Sul em atividades rituais. 

 

Artista: VIVÃO – A Flor de Trombeta (2023)

Na obra, a flor é sintética, com fios de energia no centro; já as velas são cobertas por placas-mães de computadores. De forma sutil, o artista retoma ao debate que se desdobra initerruptamente em nossa cultura desde os modernistas: as relações estabelecidas entre a tradição e a inovação, entre o antigo e o novo, entre o ancestral e o contemporâneo.

Essa exposição inaugurou o espaço de galeria Rua Urban Gallery, localizado na Orla do Rio Vermelho. Espaços como esse, que fomentam projetos com artistas independentes das diversas linguagens artísticas da cidade, além de propor levar a cultura da rua soteropolitana para um espaço central da cidade, é de fundamental importância para a produção cultural de Salvador.   

 

Artistas que participaram da exposição: 

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