Por Milton Pinheiro
Para além da erosão da vida social, destruição dos serviços públicos, cooptação do parlamento para uma pauta de destruição de direitos e do entreguismo do parque das empresas estratégicas brasileiras, o agitador fascista Jair Bolsonaro quer levar à máxima potência as formas de governar que estão desestruturando o papel mínimo do Estado e colocando em completo risco a vida social e ambiental em todo território nacional. Trata-se da mais absurda política de reconfiguração do Estado através da operação do caos controlado, em processo de radicalização, e do aprofundamento do golpe por dentro das instituições.
A desarticulação dos instrumentos que o Estado teria para conter a barbárie social é um projeto político das frações burguesas que operam por dentro do bloco no poder e que são, ao fim e ao cabo, os patrões do governo Bolsonaro. Mesmo que o agitador fascista apresente-se de forma tão desarticulada que, em tese, deixaria sobressair seu possível papel de lobo solitário, como forma midiática de desconectar criador (burguesia) e criatura (gestor).
O balcão do parlamento, através do Centrão, oficializou aquilo que talvez seja a maior descoberta do último período de como se lavar dinheiro e oficializar a corrupção, ou seja, o orçamento secreto e as emendas do relator. Esquema juridicamente urdido para continuar comprando parlamentares ao modelo da velha política. O parlamento brasileiro conseguiu tornar oficial o processo de compra e venda de votos para operar os desejos obscuros e destrutivos do poder executivo. E, agora, Artur Lira e o Centrão tentam tornar fixo para o próximo ano, independente de quem ganhe à disputa presidencial, esse mesmo procedimento orçamentário. A excrecência fisiológica quer se perpetuar.
Ao lado dos gastos exorbitantes com o orçamento secreto, vide os repasses para os aliados do presidente da Câmara Federal em Alagoas; os cortes, bloqueios e contingenciamentos do orçamento da Educação, Ciência & Tecnologia colocam em risco a soberania nacional do ponto de vista do conhecimento. E, afundam os serviços públicos na mais completa inanição para atender ao povo brasileiro.
Na outra ponta da destruição do Brasil, o governo federal avança na privatização do parque estratégico das empresas públicas brasileira: Petrobras, Eletrobras, Correios & Telégrafos e tantos outros setores que congregam esse conjunto importante de empresas que têm deixado de cumprir seu papel essencial para responder às demandas da população. O projeto de Paulo Guedes, como gestor do comitê executivo da burguesia dentro do Estado, é avançar sobre o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e outras estruturas públicas. A partir dessa lógica, Bolsonaro cumpre um papel fundamental para os interesses das classes dominantes no aparelho de Estado.
Os serviços públicos estão deliberadamente em completo caos. As mudanças efetuadas na estrutura das instituições permitiram, ao governo burguês-militar, avançar na destruição do meio ambiente, na invasão das terras das populações indígenas, na construção da violência dirigida que ataca pobres, pretos, mulheres, lgbtqia+ e juventude das mais diversas periferias. O partido da ordem, de natureza neofascista, é composto por policiais militares, segmentos das forças armadas, milicianos dos mais diversos negócios da franja do Estado, segmentos do agronegócio, classe média obscurantista e neopentecostais do comércio da fé, que também operam no aparelho do Estado brasileiro. Esse partido da ordem, hoje, encontra-se armado e pode agir da mesma forma que a turma de Donald Trump agiu no processo de posse do Joe Biden, tanto com vitória da oposição no primeiro ou no segundo turno.
O governo burguês-militar de Jair Bolsonaro alimenta o uso da violência sobre as mais diversas lideranças da vida social, a exemplo de líderes populares, indígenas, sem-teto, sem-terra, ambientalistas, jornalistas (vejam os casos dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips). Mais recentemente, tivemos o ataque sobre as retomadas indígenas nas cidades de Amambaí e Dourados, no Mato Grosso do Sul, com o assassinato de um indígena Guarani-kaiowá, e um conjunto de violências praticadas pela PM e Milícias que deixou muitos homens, mulheres e crianças feridas.
O processo eleitoral, em curso, mesmo com a vitória do ex-presidente Lula sendo cantada como redenção social para o Brasil, não derrotará o bolsonarismo nas urnas. A esquerda revolucionária tem que apresentar seu projeto de independência de classe no primeiro turno, esse é o papel e a proposta do PCB com a pré-candidatura da economista Sofia Manzano; para que possamos continuar ocupando as ruas para derrotar as hordas neofascistas do bolsonarismo e construindo a organização da nossa classe.
O reformismo de baixa intensidade da conciliação de classes tem parca condição de fazer enfrentamento ao bolsonarismo na luta de classes. Cabe ao bloco revolucionário do proletariado organizar suas forças a partir de ações anticapitalistas e antiimperialistas, no sentido de disputar uma alternativa de poder popular que opere na perspectiva do socialismo.