O quadro político brasileiro continua marcado pela ordem da miséria social, com um desemprego e desalento crescentes, caracterizado pela violência urbana e estatal que agem de forma acentuada sobre o conjunto dos pobres, pretas e pretos das mais diversas periferias, povos originários, camponeses e o conjunto da população atingida pelas opressões da sociabilidade capitalista, a exemplo dos LGBTs e mulheres.
Na perspectiva do capitalismo brasileiro, seguem como prioridades do Estado, e do governo federal, dirigidos ataques ao serviço público como uma técnica de retaliação social e construção permanente do caos na estrutura administrativa do serviço público, que tem causado problemas no sistema de saúde, na educação básica e superior. Evidenciando-se, assim, o garroteamento da ciência & tecnologia e tendo como projeto a destruição do meio ambiente para facilitar o processo de acumulação e concentração do capital.
O processo eleitoral em curso está marcado pelo modelo da ação política que articulou um amplo pacote de “bondades”, mediado pelo Centrão no congresso nacional e sem oposição política, notadamente com um perfil populista, de caráter temporário e eleitoral, para a compra de votos. São medidas de denso apelo social, entre a população vulnerável, como o aumento no valor do auxílio Brasil, bolsa para caminhoneiros, taxistas e motoristas de aplicativos, vale-gás, controle nos preços dos combustíveis, etc. Ao lado dessas medidas, houve um reforço no chamado orçamento secreto, como se sabe, uma invenção do Centrão e do governo para corromper o processo eleitoral, mantendo seus deputados em posição privilegiada na disputa eleitoral. Trata-se, sem dúvida, do maior complexo de corrupção produzido pelo Estado capitalista no Brasil em favor do partido da ordem.
É nesse quadro de profundas implicações políticas que ocorreram as eleições do primeiro turno no Brasil; marcado, também, pela máquina intocável das fake news. O resultado dessa primeira rodada, embora vencida por Lula, abriu um novo cenário no qual devemos avaliar algumas questões, para que possamos avançar na superação dos impasses e da necessária construção de uma campanha mais forte para tornar Lula vitorioso no segundo turno.
A jornada que se aproxima efetivou-se a partir de uma tensa disputa entre a democracia formal com liberdades democráticas, onde podemos lutar de forma menos persecutória e avançar em nossas lutas, e a barbárie que se consolidou a partir do projeto de Bolsonaro e da sua base bolsonarista, entre eles, o carlismo histórico reagrupado através de ACM, o neto. É importante discernir Bolsonaro do bolsonarismo. Mesmo derrotando Bolsonaro no segundo turno, o bolsonarismo continuará existindo como força social e política, com todo seu arcabouço neofascista e agindo através de hordas e segmentos sociais organizados que compõem o partido da ordem.
Nesse marco histórico do primeiro turno, houve um conjunto de ações e análises, em especial da socialdemocracia, que subestimou a força de Bolsonaro, seu governo e a capacidade do arco de alianças sociais e políticas que se formou na defesa do voto no agitador fascista. Ele chegou ao primeiro turno com uma melhor avaliação de seu governo, com amplitude social e força institucional. Ao lado dessa formatação política para disputar as eleições, Bolsonaro abriu um debate sobre a questão da economia (inflação, emprego, preços do combustível, políticas sociais) sem ter encontrado o devido enfrentamento no polo antagônico da disputa, pois, Lula se reduziu a uma leitura romântica do passado glorioso (governos do PT) sem sinalizar o que seria o futuro. Deixando transparecer que Bolsonaro tinha propostas para o país e Lula pedia um voto de confiança com base no seu histórico.
Mas, algo anterior a esse processo tornou frágil o enfrentamento para derrotar o agitador fascista. A luta política contra Bolsonaro sofreu um importante revés quando a tática do enfrentamento aberto nas ruas e nas denúncias institucionais deu lugar a uma preferência pela disputa nos marcos do processo eleitoral. Bolsonaro chegou às urnas forte e com discurso emulativo de largo alcance social.
A compreensão de que a força de Bolsonaro e do bolsonarismo não é tão somente eleitoral faltou ao encontro com a estratégia da luta de massas e pressão institucional. Esse lapso de análise e falta de compromisso com essa ação, não permitiram que os setores majoritários da esquerda captassem que Bolsonaro, agitador fascista por excelência, representava o ressentimento assentado no senso comum que considera que suas decepções, fracassos, não realizações e derrotas têm responsáveis. E efetivamente isso é identificado no PT e seus governos. Dessa forma, abrir mão das ruas e das denúncias institucionais articuladas por atos expressivos não foi a melhor tática política para enfrentar Bolsonaro e pavimentar o caminho para sua derrota nas ruas e nas urnas.
A lógica da política tradicional, profundamente organizada dentro da ordem, articulou fortes esquemas de corrupção eleitoral em consonância com os amplos setores envoltos no sentido manifestado pelo ressentimento. São territórios dominados pelas milícias, aprofundado pelo Brasil capturado pela ideologia da “teologia da prosperidade” e a manutenção de “currais” que avançaram com a corrupção do orçamento secreto.
Ainda no contexto dessa análise, as eleições estaduais estão dentro do previsível diante da razão eleitoral estabelecida. Os blocos em torno de Lula e Bolsonaro não tiveram grandes distorções. Os resultados regionais também continuam sem maiores discrepâncias, mesmo com o peso eleitoral de estados como São Paulo e Rio de Janeiro.
É dentro dessa totalidade eleitoral que se apresentam as eleições na Bahia. Nosso estado sempre foi marcado pelo controle do poder burguês, mas com uma especificidade em que as frações assentadas no bloco do poder são organizadas a partir de um elitismo de classe como marca predominante do poder político que detém o controle do Estado. E o elemento determinante dessa dominação é a cultura política “carlista” no exercício da política.
Trata-se da preservação de grupos políticos forjados a partir dos “currais eleitorais”, articulados pelo amplo movimento do fisiologismo na relação com o Estado, por uma visão patrimonialista que emana inicialmente do poder municipal em promíscua relação com o histórico modelo de federação de interesses que se representam no governo estadual, e isso foi muito forte durante as gestões de ACM e dos carlistas (João Durval, Paulo Souto, César Borges). A Bahia dividida, para melhor dominar, pelo modelo de federação de interesses no varejo local e centralizada pela arrogância mandonista do poder estatal (governador) foi a marca registrada desse estilo de governo.
Mesmo sendo uma potência econômica entre os estados da federação, a Bahia sempre sofreu com a fome, doenças epidêmicas, baixa qualidade educacional, precário atendimento médico, desemprego, uma polícia típica em suas ações do modelo da primeira república, falta de equipamentos públicos para efetivar os diversos atendimentos demandados pela população carente de nosso estado.
Esse histórico projeto, derrotado pelo PT em 2006, quer voltar através de ACM, o neto, com a mesma lógica política, só que agora em intima relação com as forças neofascistas no Brasil e na Bahia. Contudo, o PT precisa superar seus equívocos para cumprir o papel de necessário enfrentamento a essas forças políticas, que se reagruparam, das tradicionais frações burgo-elitistas do histórico grupo carlista.
O petismo de governo precisa mudar na sua forma política, ao tempo em que deve apresentar novas propostas para superar impasses que são fortes em suas políticas públicas: a segurança pública na Bahia precisa mudar radicalmente para que possamos colocá-la para agir em defesa da diversidade cidadã; o governo deve redimensionar o papel da educação básica e permitir a autonomia das universidades estaduais, possibilitando uma dotação orçamentária de 7% das receitas líquidas de impostos (RLI) para essas instituições (UNEB, UESB, UEFS,UESC) possam cumprir sua finalidade social; reestruturar a saúde pública para que ela possa agir de forma regionalizada, com caráter social, e retirar a população da fila da regulação quase criminosa; tornar sem efeito contrarreformas trabalhistas e previdenciárias que atacaram o sistema de direitos dos trabalhadores/as públicos; ter um plano de grande investimento cultural para atender às demanda populares; ter capacidade de ouvir e dialogar com o conjunto das representações do funcionalismo público. São questões importantes que precisam do compromisso do candidato do PT no segundo turno na Bahia.
Com base nessa avaliação e nessa perspectiva, pensamos que é importante o voto crítico em Jerônimo 13 no segundo turno da Bahia, para que possamos enfrentar o carlismo reagrupado sob forma bolsonarista.
A luta contra Bolsonaro, o bolsonarismo e ACM, o neto, continuam neste momento do processo eleitoral como bandeira central das contendas que devemos priorizar nas lutas de classes…
Agora é Lula e Jerônimo, 13!