Por Milton Pinheiro
A conjuntura brasileira é marcada cotidianamente por mudanças bruscas, no entanto, ela sempre está ancorada na crise orgânica da ordem e nas balizas por onde se movimentam as diversas frações da burguesia que articulam uma guerra de posição para melhor se posicionar no bloco do poder. Foi assim no governo de extrema direita do agitador fascista Jair Bolsonaro, bem como, agora, no governo de União Nacional do presidente Lula. Ainda na disputa por posições, não desvelamos, no polo antagônico, a movimentação dos setores proletários e populares que deveriam ser articulados organicamente pela vanguarda socialista.
A cena política precisa ser desvelada para que o conjunto da classe trabalhadora possa se movimentar na defesa da sua pauta imediata e seu projeto histórico. Apesar da importância de ter sido eleito um governo que age no campo da razão e do respeito aos valores da democracia formal, tão somente isso não garante a derrota da extrema direita, das hordas neofascistas e neonazistas que operam no submundo das redes digitais e nos diversos espaços da vida social. Afinal, o desigual e combinado impregna a totalidade das relações sociais.
Os vetores da conjuntura e os fatores da disputa estão abrindo uma disjuntiva imprevisível entre ações do governo e intervenção da esquerda por um lado e o bloco da extrema direita com toda sua composição política, por outro lado. Nesse cenário complexo, existe uma necessidade política para que o papel do governo seja eficiente no combate aos golpistas de 8 de janeiro, na aplicação de políticas públicas de ampla e significativa reparação social, na efetivação ações que possibilitem a diminuição do desemprego, na perspectiva de que seja estabelecida uma política governamental que contemple pautas da classe média e que o Estado seja reposicionado no sentido da lógica do progresso e da profunda melhoria dos serviços públicos.
É fundamental entender que nesse cenário da disjuntiva, que está aberta, o governo não pode errar. Contudo, o arco de alianças no Congresso Nacional, a composição do ministério, a relação promíscua com diversas frações da burguesia interna, a incapacidade de fazer rupturas progressistas dentro da ordem e a inexistência de acenos para a mobilização popular, pode gerar contradições e velhas decepções que certamente movimentarão o “ovo da serpente”, com a possibilidade de retorno com força, em outro patamar, da extrema direita ao controle do Brasil. A luta contra esse passado presente precisa, para além da ação do governo, da presença significativa da esquerda revolucionária nessa disputa.
É perigosa a forma política pela qual se posicionam as frações da burguesia e sua representação de classe. Essa força tem instrumentos concretos para impactar o balcão de negócios do parlamento, uma mídia corporativa como porta-voz e ressonância ideológica, uma parte ainda significativa do Ministério Público e da Justiça, força organizada na classe média e uma estrutura submersa nas forças armadas e polícias. Todo esse conjunto político poderá, assim que desejar, operar manifestações das hordas insanas vestidas de verde-amarelo.
A presença do neofascismo, e seus movimentos, na cena política brasileira se consolidaram a partir das disputas abertas em 2013. A irracionalidade, o obscurantismo, o ressentimento, a xenofobia (com suas diversas facetas) e o ódio à democracia são alguns aspectos que estruturam a presença da extrema direita na disputa política no Brasil.
Essa conformação política da extrema direita tem força e apelo para se projetar como alternativa diante dos impasses que fazem com que as massas populares sejam encapsuladas pela desrazão e pela perspectiva autoritária. O confronto com esse campo é ético-político, é no movimento do real dentro da sociedade; ele deve passar pela superestrutura, agir para organizar o campo proletário e popular, ao tempo em que deve unificar a vanguarda socialista.
Como alerta para entender esse processo, não podemos esquecer o papel decisivo do fator “classe média”, com sua carga de ignorância e pré-conceito, na definição da correlação de forças em uma conjuntura onde a vanguarda ainda não tem papel protagonista na disputa em curso.
Nesse cenário de impasses e imprevisibilidade, é fundamental que possa emergir uma forte movimentação da classe trabalhadora e suas vanguardas, com programa mínimo e ampla unidade de ação, no sentido de intervir na disputa em curso e mudar os rumos da luta de classes.
É imperativo vencer!