A crise sanitária instalada a partir da disseminação do novo coronavírus não é a causa, mas o expoente de uma crise política e econômica que já alcança níveis globais desde meados da década que se encerrou em 2019. As consequências dessa crise e seu agravamento após a COVID-19 se revelam ainda mais problemáticos quando analisamos os números do desemprego no Brasil antes e depois da pandemia: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até fevereiro deste ano, tínhamos 12,3 milhões de pessoas sem trabalho assalariado; em maio já chegamos a 12,7 milhões, significando, em apenas 3 meses, que pelo menos 400 mil trabalhadores perderam seus empregos.
Ainda segundo o IBGE, a Bahia tem o maior índice de desemprego entre todos os estados brasileiros, e 4 em cada 10 baianos estão em situação de extrema pobreza. Com o acesso dificultado e a inconsistência no cronograma de depósitos do Auxílio Emergencial, as carências da população se expressam cada vez mais fortes após a pandemia. Frente ao vácuo deixado pelo Estado, intensificado com a necessidade do isolamento social, desde março deste ano estudantes, trabalhadores desempregados e profissionais de diversas áreas criaram Comitês e Brigadas de Solidariedade pela Bahia afora. Conheça quais são e entenda como funcionam:
Em Salvador, o Comitê Maria Brandão foi criado a partir de uma rede de apoio que conta com advogados, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas e médicos. A atuação é pelas redes sociais, através do endereço @comitemariabrandao no Instagram, e vai de esclarecimento de dúvidas até direcionamentos e orientações à população acerca de questões que se tornaram ainda mais latentes durante a pandemia. Ademais, o Comitê faz publicações em torno de temas como Auxílio Emergencial, COVID-19, bem-estar físico e psicológico e direitos trabalhistas.
Os soteropolitanos também contam com a Brigada Solidária Pedro Domiense (@brigadasolidariadomiense no Instagram), cujo nome homenageia um histórico sindicalista baiano. A Brigada vem arrecadando fundos para distribuição de cestas básicas a moradores de bairros marginalizados de Salvador. De abril a julho, suas ações alcançaram os bairros de Pirajá, Alto das Pombas e Calabar.
Ainda na capital baiana, o Movimento por uma Universidade Popular (@mup.bahia nas redes sociais), que atua principalmente em universidades e movimentos sociais de luta por moradia, deu início à sua campanha ainda em março, entregando periodicamente kits de limpeza e higiene a cerca de 70 famílias residentes de uma ocupação urbana na cidade.
Partindo para Feira de Santana, o Comitê Yeda Maria (@comiteyedamaria no Instagram) discute assuntos pertinentes a reabertura do comércio na cidade, violência durante a pandemia e fomento à arte. Além disso, iniciaram em junho a entrega de cestas básicas para estudantes e trabalhadores da Universidade Estadual (UEFS) em situação de vulnerabilidade. O Comitê homenageia, através de seu nome, a artista plástica e militante soteropolitana Yêdamaria.
No Sudoeste da Bahia, a Brigada de Solidariedade Popular em Vitória da Conquista tem realizado campanhas de arrecadação voltadas para o incentivo à cultura, com apresentações artísticas pela internet que visam recolher fundos e doações diversas. A iniciativa deu resultado: a Brigada já entregou roupas, sapatos e cestas básicas para cerca de 17 famílias num assentamento local.
Estas são apenas algumas das iniciativas populares espalhadas pelo estado, e o que as une é um anseio comum: a necessidade de se apoiarem na defesa dos direitos básicos à vida e à dignidade, diante da inviabilidade de depender das medidas de Estado.
Para contribuir com as ações listadas acima, basta mandar mensagem para suas redes sociais ou entrar em contato com o Jornal O Momento.