As chuvas e os desabrigados na Bahia: a luta por diginidade dos atingidos

Chuvas e os desabrigados no sul da Bahia
Por João Aguiar

Desde dezembro o Sul da Bahia e o Norte de Minas, regiões fronteiriças entre os Estados, têm amargurado uma grande tragédia socio-ambiental em grandes proporções. Nas cenas das televisões, viram-se as chuvas inundando as cidades, as casas alagadas até o telhado, os rios cheios com a força de uma correnteza que para muitos nunca antes foi vista. Hoje, passadas as chuvas na maior parte das cidades da Bahia, o lamento das famílias que perderam tudo. Os escombros de casas esfareladas, das ruas destruídas, combinam-se com as doenças, a fome, o desespero, e tinturam a cena triste que despencou sobre os ombros dos trabalhadores da Bahia.

Por um lado, se as fortes chuvas são produto das mudanças climáticas aceleradas, provocando fenômenos dramáticos para a vida humana, o meio ambiente e a fauna local, por outro, os fatores sociais são consequências da condição exploratória que o capitalismo destina à vida humana. Os principais atingidos pelas fortes chuvas foram pessoas e comunidades pobres da classe trabalhadora. 

No caso das cidades, a estrutura urbana demarca socialmente as comunidades que serão mais carentes do serviço público, da constituição de escolas, de espaços de lazer, de centros de saúde adequados. E também demarcará as moradias com os maiores fatores de risco, que na antessala de grandes tragédias, a pobreza clarevidente ja denuncia os perigos. As comunidades ribeirinhas, rurais, indígenas e quilombolas, que sofrem a perseguição continuada dos latifundários do agronegócio pela posse de suas terras, pagam todo o ônus do desmatamento e a substituição da vegetação nativa pelas monoculturas (tal como o Eucalipto), que fazem a terra não ser mais capaz de absolver as águas da chuvas, que acabam por escoar e inudam os vales, carregando dejetos aos rios. 

Se os latifundiários e a especulação imobiliária são protegidos pelos governos e o Estado enquanto um balcão dos negócios capitalistas, o povo trabalhador constituiu um grande empenho de solidariedade regional e nacional com os atingidos pelas chuvas. Centenas de campanhas de solidariedade foram organizadas por sindicatos, entidades estudantis, partidos operários e de esquerda, movimentos indígenas e de trabalhadores rurais. 

A campanha SOS Litoral Sul, organizada pelo PCB e seus coletivos partidários, em conjunto a outras organizações políticas, mobilizou dezenas de lutadores sociais para se empenharem, dia e noite, a garantir cestas básicas e produtos de higiene para as famílias atingidos, enquanto um empenho nacional de mobilização política reuniu mais de 40.000 reais em poucos dias e ainda está em andamento. O MST a partir de seus assentamentos mobilizou toneladas de alimentos, como fez durante toda a Pandemia no combate à fome no Brasil. Assim como a iniciativa da UESC Solidária, a entrada em cena decidida do combativo DCE Livre Carlos Marighella (UESC), a ADUSC (sindicato), as representações indígenas Tupinambás e as comunidades Quilombolas locais deram os primeiros socorros aos segmentos da população mais atingidos. Demonstraram, na prática, a antíntese quanto o desdém do governo federal, que através  do presidente da república Jair Bolsonaro, se entretia com jetski em suas férias e debochando do povo, virava as costas para os acontecimentos da Bahia

Entre a esperança que surge no seio dos acontecimentos mais drásticos e o peso de quase 60.000 mil pessoas desalojadas, 21 mortos e cerca de 300 municípios (fora os distritos) atingidos pelas chuvas, a luta prosseguirá para que o poder público dê respostas aos desabrigados e as famílias que tudo perderam nas enchentes. A luta continuará pela plena restituição material das comunidades e povos desolados, àqueles que perderam suas moradias, seus móveis e suas terras, hoje vítimas de uma tragédia denunciada, mas que amanhã encontrarão a dignidade e seus direitos no seio da luta e da organização popular.

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