Para as mulheres negras, latino-americanas e caribenhas o dia 25 de julho é de intensificação das lutas, pois temos na agenda uma data para celebrar nossas resistências, e no Brasil é Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. As mulheres baianas também homenageiam e são homenageadas em julho através da memória das lutas das mulheres no 2 de julho, independência da Bahia. Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica são nossas heroínas. Uma das necessidades destacadas durante o mês de julho é a reivindicação de figuras que foram e são importantes como exemplos de vida, e de luta pelo fim do racismo e do patriarcado.
Mulheres pretas, indígenas, ribeirinhas, quilombolas, camponesas e trabalhadoras ousam rebelar-se ao colonialismo e à cupidez do capitalismo em toda a América Latina e Caribe. Quero contribuir retomando a trajetória de mulheres brasileiras, negras e comunistas que marcam a história das lutas populares no Brasil, das mulheres comunistas e do centenário do Partido Comunista Brasileiro.
Maria Aragão
“Apedrejada em Codó, Maria
Disse: Quero entrar para o Partido Comunista”
Começo a minha participação no Vozes da Revolução #1 reproduzindo um trecho do depoimento da médica e militante que ingressou no PCB em 1945, Maria José Aragão. Maria Aragão relata em autobiografia como encarou a tarefa de reorganizar o Partidão no estado do Maranhão, agitadora e petulante, como se afirma, buscou driblar as insuficiências teóricas do PCB no Maranhão e aprender com os erros.
Aragão era médica, maranhense que morou e formou-se no Rio de Janeiro, decidiu entrar no PCB após assistir a um comício de Prestes. Ao retornar para o Maranhão, destacou-se por sua atuação política em greves, dirigiu o Jornal Tribuna do Povo até o ano de 1962. Durante a ditadura, foi presa por 3 vezes, e sofreu difamações e ofensas por ser comunista, e também por ser mãe sem casar na Igreja. Era chamada de “besta-fera”, perseguida por padres, chegando a ser apedrejada na cidade de Codó.
A atuação de Maria Aragão junto ao PCB se encerra em 1981, quando a mesma se desliga do Partido. Sua luta continua na construção do Grupo de Mulheres Oito de Março, na fundação da Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos – SMDDH e da Central Única dos Trabalhadores – CUT no Maranhão.
Maria faleceu aos 81 anos, em 1991, em sua passagem, foi homenageada através de um grande ato político e passeata dos trabalhadores rurais.
Maria Brandão dos Reis
Rafaela Fraga escreveu para o Jornal O Momento uma matéria sobre a vida e memória de Maria Brandão dos Reis. Baiana, natural de Rio de Contas, Maria Brandão também ingressou no PCB por influência de Prestes. Acolheu em suas lutas, as lutas das famílias da ocupação do Corta Braço, assim como, hospedou e acolheu Ana Montenegro, que veio a se tornar outra história militante do Partido Comunista.
Brandão se destacou na luta contra a utilização de armas atômicas em 1950, a “milionária da paz” colheu mais de 10 mil assinaturas para o II Congresso Brasileiro dos Partidários Pela Paz, e seu trabalho de base foi reconhecido pelo Júri Nacional dos Prêmios da Paz, que lhe entregou a medalha de Campeã da Paz.
Renata Regina
Renata é uma militante comunista, dirigente do PCB e do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro. Doula, fotógrafa e mãe, Renata participa das lutas pelo parto e nascimento humanizado e também foi uma importante organizadora da juventude comunista. Indignada com o governo de FHC desde criança, Renata diz que logo cedo começou a admirar a atuação dos movimentos sociais. Começou sua atuação política em grêmios estudantis, e como estudante secundarista, se aproxima do PCB. Foi dirigente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES, e uma das pessoas responsáveis pela reorganização da União da Juventude Comunista.
Renata então é uma grande referência nas lutas pela educação, hoje tem atuação importante no feminismo classista, e continua a inspirar a juventude e as mulheres negras a se organizarem com firmeza e camaradagem.
Cheyenne Ayalla
Jovem, estudante, militante em núcleo de bairro na UJC em Salvador. Como nossa militância mantém-se e se renova como o nosso Partido, trago também a trajetória de Ayalla. Nas palavras do próprio PCB, ao anunciar que a camarada assumia uma tarefa que requer coragem e vigor, podemos conhecê-la:
“Ayalla é uma jovem lutadora popular, Secretária Política do Núcleo de Bairros da União da Juventude Comunista (UJC) e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que diante da sua própria realidade, em momento algum apaziguou com as contradições à sua volta, se engajando na luta política comunitária e por bairros com a intenção de modificar a realidade concreta que a rodeava. De origem periférica e filha de professores, a jovem estudante do Bacharelado Interdisciplinar de Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA) traz vigor e disciplina pra luta, atuando ativamente na construção dos movimentos populares e de bairros da cidade de Salvador”
Que nossos exemplos se multipliquem e sejam valorizados, o poder seja tomado pela nossa classe e a luta pelo fim do racismo, do patriarcado e do capitalismo tenha fim, para que possamos ser verdadeiramente e totalmente livres. Em uma nova sociedade, poderemos celebrar nossa diversidade e plena humanidade. Enquanto isso, todos os dias do ano teremos homenagens prestadas, punhos em riste e organização política como nossas táticas e métodos. E enquanto comunistas, apontaremos a necessidade e disputaremos dentro dos movimentos sociais feministas e antirracistas, a estratégia socialista.
É fundamental saudar os trabalhos do PCB, do CFCAM, do Coletivo Negro Minervino de Oliveira e iniciativas independentes e ao mesmo tempo lançar maiores esforços no estudo, pesquisa, catalogação e divulgação de trajetórias de mulheres negras em nossas fileiras, sabemos que são muitas, das tarefas de base às tarefas de direção. Como Yeda, Laudelina, Diva, Thereza, Bernadete, Raline, Espaguete e tantas outras.
Mulheres negras constroem o Brasil, coordenam e/ou sustentam os lares brasileiros, as nossas ancestrais lideraram grandes revoltas, negociações e insurreições e hoje lideramos movimentos e construímos lutas. Trazer a história das mulheres negras e comunistas motiva e impulsiona a organização política da classe trabalhadora brasileira, que em grande parte é composta por elas.
E viva o exemplo de Tereza de Benguela!