A Questão da PM-BA na Sanha Golpista

Foto: O Momento - Diário do Povo

Por João Pedro Aguiar

A Questão da PM-BA na Sanha Golpista – Com tiros de fuzil para o alto, arremessando materiais de ambulantes ao mar e esbravejando palavras de ordem contra as medidas de restrição para o combate do Covid-19: Wesley Soares, policial militar da região de Itacaré, protagonizou cenas de terror no bairro da Barra, em Salvador, este último domingo (28).

Logo após iniciar suas ações, comandos de operações especiais da PM-BA foram convocados para iniciar uma negociação que durou horas – prática incomum da PM, que costuma operacionalizar suas ações nas periferias sem temer as ações arbitrárias e truculentas. Exemplo disso foi a recém execução do menino Ryan Andrew de 9 anos no Vale das Pedrinhas, no último sábado, dentro do Complexo do Nordeste de Amaralina. No fim das contas, Wesley tentou alvejar a própria corporação, que respondeu com tiros para contê-lo. O policial foi encaminhado em estado grave para o HGE e não resistiu aos ferimentos.

Os fatos, que posteriormente se desenvolveram a partir das ações de Wesley, envolvem muito mais que uma mera caracterização de surto. Sua ação movimentou os setores mais reacionários da polícia militar baiana, se apoiando na máquina de Fake News e na convocatória de figuras como Deputado Soldado Prisco (PSC) e pela ASPRA (Associação de Policiais e Bombeiros Militares do Estado da Bahia) na Bahia, base mais entusiasta do governo Bolsonaro-Mourão e em oposição corporativa ao governo do Estado.

Ao mesmo tempo, sua ação contou com o apoio de figuras nacionais da base bolsonarista como Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis, que passaram a reforçar o chamado de amotinamento. Nos círculos da PM baiana tem circulados imagens onde a figura de Wesley é polida como o mártir que confrotou com coragem um governo estadual autoritário, por levar a cabo as medidas de isolamento como o Lockdown.

A fascistização das polícias militares produziu as ações de terror. Há algumas semanas, o governo Bolsonaro tem entrado cada vez mais em posição de defensiva, por conta da sinalização de setores da burguesia de ruptura com seu governo. Isso se deu ao passo que o caminho eleitoral antes aberto passara à dúvida com a anulação dos processos de Curitiba, que garantiam a ilegibilidade de Lula.

A retomada das chamadas de manifestações fascistas buscando reagrupar sua base política, a tentativa de mobilizar a opinião pública contra o fechamento do comércio e as medidas de restrição, bem como o estrangulamento econômico aos estados que entraram em ponto de calamidade pública generalizada, pelo aumento sistemático das contaminações e das mortes diários pelo Covid-19, tem sido o ponto para o governo se reorganizar e se estabilizar ante as tempestades parciais.

O fato em questão precipitou o papel de ação das polícias na sustentação do governo Bolsonaro. Que arregimenta as bases policiais em torno de seu governo, rompendo com a disciplina da hierarquia em que o comando é delegado aos estados. Já tramita na câmara de deputados um projeto de lei 4.463/2001, cujo relator é Capitão Augusto, líder da bancada da bala e base do governo¹, para modificar a estrutura das polícias tirando a autonomia dos governadores de nomear seus comandantes, criando autonomia administrativa e financeira das polícias, ao passo que centraliza seu comando a partir da União.

As polícias militares e seu deslocamento corporativo em conflito aos governos, que guardam contradições com a política bolsonarista, são absolutamente funcionais para criar as condições políticas de Bolsonaro continuar implementando sua agenda. E se o acirramento da conjuntura se manifestar favorável a condução para uma ruptura institucional, o apoio dos amplos setores das polícias é fundamental para consolidar uma manobra golpista.

Desde já as forças populares e democráticas devem se contrapor as manifestações dos setores fascistizados da PM, que apoiam o encerramento das medidas de isolamento social e engrossam as fileiras do golpismo de Bolsonaro. Defendendo que para a sustentação das medidas de isolamento o retorno imediato do auxílio emergencial em sua integridade, a ampliação de recursos para o combate a pandemia e um plano imediato de vacinação em massa para imunizar a população brasileira.

[1] https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/01/retirar-controle-policias-governadores-golpe/

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