Por Caroline Birrer e Érika Garcez
3 Anos da Morte de Marielle Franco – Foi no dia 14 de Março de 2018 que silenciaram a voz de mais uma mulher lutadora. Marielle, vereadora do PSOL, e Anderson, seu motorista, foram assassinados à tiros, de maneira brutal e covarde, emboscados no bairro do Estácio, após a sua participação em uma atividade com mulheres no centro da capital carioca. De acordo com o Ministério Público, o ex-policial militar Élcio de Queiroz foi o motorista do carro que emparelhou com o da vereadora. Já o policial militar reformado Ronnie Lessa foi o responsável por efetuar os disparos que tiraram a vida de Marielle e Anderson. Ambos foram detidos um ano depois e estão à espera do júri popular, apesar das tentativas das defesas para livrá-los.
Se passaram três anos após o assassinato de Marielle e Anderson e, apesar da prisão dos dois executores desse crime brutal e cuidadosamente planejado, a pergunta ‘Quem mandou matar Marielle e Por quê?’ ainda se mantém sem resposta. As famílias e amigos de Marielle e Anderson continuam lutando pelo andamento e transparência na investigação e seguem em uma luta constante por respostas sobre os verdadeiros mandantes e os motivos desse crime bárbaro.
Mas, infelizmente, a justiça segue em passos lentos, quase parando. Em três anos, já foram três delegados diferentes à frente das investigações, muitas ligações não explicadas da Família Bolsonaro com os executores do crime, diversas tentativas de desarticulação das investigações, informações vazadas pela mídia, disputas para federalização do caso, dentre muitas outras questões. Finalmente, praticamente três anos depois, foi criada uma força tarefa para acelerar o andamento das investigações após grande pressão da família. Vimos na disputa entre Moro e Bolsonaro o pano de fundo da intervenção do governo federal diretamente na polícia federal e as tentativas do governo para fazer tudo ao seu alcance para desarticular as investigações. Toda a morosidade nas investigações, disputas e intervenções apontam para a relação gritante entre as instituições estatais e a milícia, agora também no âmbito federal e escancaram mais uma faceta da necropolítica do atual governo, que se mostra como coluna dorsal do projeto de Bolsonaro-Mourão e da burguesia que os sustentam.
Marielle foi vítima de um crime político que tentou silenciar sua luta e tudo o que ela representava politicamente. Marielle, mulher, negra, bissexual e periférica, construía um projeto político socialista na luta contra toda a exploração e opressão sofrida pela classe trabalhadora brasileira. Vereadora eleita pelo PSOL em 2016, com 46 mil votos, sendo a quinta vereadora mais votada. Lutou veementemente pelos direitos humanos e contra a violência policial, questionando intensamente as mortes do jovens negros nas favelas e contra as milícias fortemente organizadas no Rio de Janeiro. Ainda antes das eleições, Marielle atuou ao lado de Marcelo Freixo na chamada “CPI das milícias”, que apontaram 170 bairros controlados pelas milícias na capital carioca. Mostraram, além das táticas de extorsão desses grupos contra a população, a sua relação direta na política de venda de votos. A Vereadora denunciou fortemente também a política estatal de ocupação militar de favelas, chamada de “unidade de polícia de pacificação” (UPPs), e criadas como mais uma ação contra a ‘guerra às drogas’. Mas, na prática, as UPPs são mais uma face da guerra aos pobres e da política racista do Estado, tendo ocupado majoritariamente favelas na zona sul do Rio (região turística) e ajudado no processo de gentrificação de muitas áreas, forçando muitas pessoas a deixarem essa região para morarem nas zonas mais afastadas do centro da cidade e ainda a perpetuação do genocídio da população negra.
Infelizmente, nestes três anos estamos vendo o avanço forte de um projeto político que Marielle sempre lutou contra e que segue atacando os direitos dos brasileiros, intensificando a exploração da classe trabalhadora e acirrando as desigualdades sociais. Desde 2018, enfrentamos no Brasil o avanço da extrema direita e do conservadorismo. Com a eleição de Bolsonaro-Mourão em 2018, o plano neoliberal engendrado por Temer e seus aliados atingiu novas proporções. A quebra da institucionalidade, que o golpe havia gerado em 2016, se aprofundou e vimos o desenrolar de uma crise das instituições. Por um lado, o congresso e senado, controlado pelo chamado “centrão”, seguiu mediando entre a política protofascista de Bolsonaro, sua própria agenda e os interesses da burguesia, mantendo o apoio ao presidente e principalmente às medidas de austeridade econômica encabeçadas por Guedes. Vimos o prosseguimento das contrarreformas iniciadas com Temer e o aprofundamento dos desmontes dos serviços públicos e de qualquer possibilidade de um Estado de bem estar social. Além dos ataques sucessivos à saúde e educação pública, que só se aprofundaram ainda mais com a pandemia da Covid-19, vimos o descaso constante do Governo Federal com as mais de 300 mil mortes de brasileiros pelo coronavírus. E, apesar do aprofundamento dessa crise, o congresso segue inerte, recusando-se a pautar o impeachment.
O assassinato de Marielle Franco foi uma tentativa de calar a luta socialista por uma sociedade igualitária, com garantias de moradia e emprego, contra toda e qualquer exploração e contra qualquer descriminação a grupos minoritários como mulheres, negros ou LGBTQIA+.
Marielle teve sua voz silenciada por um sistema que prioriza o capital acima da vida humana, que mata e ameaça quem luta pela classe trabalhadora. Mas a sua luta não foi e nunca será silenciada. Sua voz irá ecoar através da luta de todas as trabalhadoras e trabalhadores contra a exploração desse sistema, da luta das mulheres contra o machismo e o patriarcado, da luta da população negra contra o racismo e o genocídio negro nas periferias brasileiras, da luta dos LGBTQIA+ por suas vidas e contra a discriminação. Ecoará da luta de todas e todos os Brasileiros por direitos básicos, por condições melhores de vida e contra as desigualdades sociais.