Por Zeng Ziyi – CGTN
tradução – Giovani Damico
10 anos de Guerra: Como a Síria chegou até aqui – Dez anos após o início da brutal guerra civil na Síria, a maior parte do conflito já arrefeceu. No entanto, milhões de Sírios seguem vivendo em condições aterrorizantes, uma vez que o país passa a encarar uma crise humanitária, econômica e social massiva.
Até então, mais de 585,000 pessoas perderam suas vidas no conflito e mais da metade da população da Síria pré-conflito permanece desalojada, o que inclui 6,2 milhões no interior do país e 6,7 milhões de refugiados expatriados. Mais de 80 por cento da população total do país vive agora em situação de pobreza.
Na última semana, o Secretário Geral das Nações Unidas Antônio Guterres conclamou os países a colocarem de lado suas diferenças e ajudar os sírios, os quais tiveram de aguentar “alguns dos maiores crimes que o mundo testemunhou neste século”.
“Após 10 anos, a situação continua deplorável na Síria. As pessoas no país não possuem verdadeiras condições de vida. Até então, não se vislumbra nenhuma luz ao fim do túnel, mas eu estou otimista e não quero perder as esperanças”. Hala Adlouni, um refugiado sírio vivendo atualmente na Alemanha, relatou à CGTN.
Como tudo começou?
Em 15 de Março de 2011, manifestantes inspirados pelos levantes da chamada “Primavera Árabe” se juntaram nas ruas da capital síria, Damasco, clamando pelo fim do que eles consideravam ser o domínio opressivo de Bashar al-Assad.
Na cidade de Daara no sul do país, conhecida como “Berço da Revolução”, os protestos foram precipitados pela prisão de 15 jovens estudantes, que pintaram muros com grafites anti-governamentais. A situação passou por uma rápida escalada quando soldados abriram fogo contra as multidões, matando dezenas de manifestantes. Em pouco tempo os grupos de oposição compostos por civis e soldados desertores deu início a frequentes embates frontais com as forças governamentais.
Os governos ocidentais, incluindo os Estados Unidos, foram rápidos em declarar suporte aos manifestantes. Durante um pronunciamento em 19 de Maio de 2011 o Presidente estadunidense Barack Obama comparou as ações do jovem árabe “bravo” à icônica ativista estadunidense dos direitos civis Rosa Parks, oferecendo altas honras à sua coragem de se erguer perante à tirania.
O raciocínio da Casa Branca era simples: apoiar o movimento da “Primavera Árabe” traria uma transição para governos democráticos através do mundo árabe.
Ao invés de promover um período para uma verdadeira reflexão da magnitude da situação e dos riscos significativos associados à intervenção política, os líderes ocidentais dirigidos por Obama, transformaram o momento em uma “exibição” da superioridade da moral ocidental e iniciou as demandas para a saída dos “ditadores” seculares do oriente médio. No entanto, ele pouco observara como tal movimento libertaria demônios para fora da caixa de Pandora e criaria um inferno na terra para milhões de sírios.
O abrir da caixa de Pandora
Como o ex-Deputado-Diretor da CIA, Michael Morell, declarara em retrospectiva numa entrevista televisiva na CNN em 2015, os EUA tinham novamente julgado incorretamente o movimento da Primavera Árabe e como uma consequência: “a Primavera Árabe foi de fato uma primavera para a al Qaeda.”
Esta não apenas “destruiu instituições que eram capazes de manter um controle sobre eles”, afirmou ele, [mas também] ela: “erodiu a disposição de alguns países árabes de confrontar o extremismo.”
No ano de 2012, os confrontos frequentes através de grandes cidades sírias se desenvolveram em uma guerra civil de escala total, que jogou as forças de al-Assad contra diversas frações de grupos rebeldes e islamistas. As principais batalhas começaram a gravitar em direção a Aleppo e Damasco – duas das maiores cidades do país. Os incansáveis embates em recuos e avanços, converteu a maioria das casas, hospitais e muralhas ancestrais das cidades em escombros e poeira.
Com o avanço do caos em esfera nacional, a Síria se tornou um terreno fértil para o desenvolvimento do extremismo religioso. Em 06 de Março de 2013, um dos grupos jihadistas insurgentes mais poderosos conhecido como Estado Islâmico do Iraque e da Síria (na sigla em inglês ISIL ou ISIS), capturou a cidade de Raqqa. Pelos anos seguintes, o autoproclamado “califado” capturaria rapidamente vastas faixas de terra ao longo do Iraque e da Síria e cometeria numerosos crimes de guerra e de limpeza étnica que aterrorizaram o oriente médio e o mundo.
No momento em que al-Assad estava sendo colocado em situação de perplexidade, o Irã e a Rússia – ambos aliados da Síria – começaram a elevar seu esforço, provendo suporte militar, o que alterou decididamente os rumos da guerra. Chegado 2015, o Irã enviou milhares de tropas e conselheiros militares para auxiliar o Presidente al-Assad na condução de missões de vigilância e no treinamento de tropas terrestres.
Enquanto isso, a Rússia iniciou uma campanha contínua de bombardeios que enfraqueceu significativamente o ISIL (ou IS) e os postos de comando dos rebeldes, possibilitando as forças do governo a retomar áreas chave estratégicas, como as da província de Hama.
O que vem a seguir para a Síria?
Hoje, apesar de o governo liderado por al-Assad retomar muito de seu território anterior, este se tornou muito exausto para lidar com a reconstrução do pós-guerra. O país enfrenta agora uma inflação massiva e está em sua pior “forma física” econômica desde o início da guerra em 2011.
Até mesmo na capital Damasco, os residentes estão lutando para sobreviver à falta de combustível e eletricidade. Estão dispostas muitas horas de espera para conseguir mantimentos básicos, como pão. Cerca de 60 por cento dos sírios ou 12.4 milhões de pessoas estão sob risco de fome, como alertado pelo Programa Mundial de Alimentação, da ONU, neste mês.
Dentre aqueles afetados pela guerra, mulheres e pessoas jovens foram as que carregaram o maior fardo. As mulheres foram atingidas de forma particularmente dura no plano econômico, com mais de 30 por cento apontado a ausência de qualquer rendimento para prover suas famílias, de acordo com uma investigação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Aproximadamente um em cada dois jovens (47 por cento) relatou que algum amigo próximo ou parente foi morto no conflito.
“Não há uma solução militar para o conflito sírio”, afirmou Guterres. “A única solução possível permanece sendo política. Este pesadelo humanitário para o longo sofrimento do povo sírio causado pelo homem precisa acabar.”
Por ora, a reconstrução permanece uma tarefa dificílima para o Governo Sírio. No início de 2019*, estimativas para o custo de reconstrução do país alcançavam de 250 a 400 bilhões de dólares – imagem que se choca com o orçamento de apenas 115 milhões de dólares do Governo Sírio-, de acordo com o Centro Carnegie para o Oriente Médio.
“O volume da destruição é enorme, tomará tempo, mas irá acontecer” ICRC especial enviado para a China. Jacques Pellet afirmou à CGTN.