O Plano de Vacinação na Bahia

Reprodução: G1

Por Angelo Barreto

O Plano de Vacinação na Bahia – No Brasil, o número de óbitos por Covid-19 já ultrapassa a marca dos 210 mil. Segundo especialistas, existe uma tendência de que muitas mortes ainda aconteçam em decorrência da doença, mesmo com o início da vacinação. O primeiro caso registrado em território brasileiro ocorreu no mês de março de 2020. Atualmente, o país encontra-se na segunda posição entre os países com maior número de óbitos, atrás apenas dos Estados Unidos.

A título de curiosidade, esse número de óbitos por Covid-19 representa quase a soma de todas as mortes causadas anualmente por doenças cardíacas isquêmicas (DCI) e acidente cérebro vascular (AVC), as duas principais causas de morte na população brasileira. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2019, as DCI mataram em média 110 mil pessoas a cada ano, enquanto o AVC matou em torno de 100 mil pessoas por ano.

Para piorar ainda mais esse cataclismo pandêmico, presenciamos uma política genocida por parte do governo Bolsonaro. O despreparo e desprezo na adoção de ações preventivas (mérito não só do governo federal, mas também de muitos governos estaduais e municipais), a flexibilização das medidas de distanciamento social. Além disso, o término da vigência do auxílio emergencial que, embora ridiculamente pequeno, vinha permitindo que parcela da classe trabalhadora brasileira tivesse uma sobrevida em meio a todo esse caos.

Quando olhamos para as taxas de ocupação de leitos de UTI, o cenário se torna ainda mais preocupante. Em Boletim publicado pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz, no último dia 13 (quarta-feira), 14 estados registraram taxas acima de 70%, entre eles o Estado da Bahia (com 71% naquela data).

Apesar do Governo do Estado da Bahia ter estabelecido e divulgado um plano estadual de vacinação contra a Covid-19, que pretende imunizar 5,08 milhões de pessoas nas quatro primeiras fases (cada uma com duração de um mês), ou mesmo que tenha firmado um acordo de cooperação para aquisição de 50 milhões de doses da vacina russa Sputnik V , esses não podem ser os únicos trunfos para mitigar a crise pandêmica. Seja porque o número de casos de Covid-19 ainda se encontra em ampliação, seja pelo simples fato da vacinação acontecer em etapas (na primeira fase serão vacinados profissionais de saúde, idosos com mais de 75 anos, brasileiros acima de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência, indígenas etc.). Nem todo mundo terá acesso a vacina inicialmente.

Estão sendo distribuídos um total de 6 milhões de doses da vacina CoronaVac, quantidade que representa apenas 1,4% do necessário para imunizar toda a população (cerca de 420 milhões de doses). Para o Estado da Bahia foram entregues 376.600 doses, que são suficientes para vacinar 188.300 pessoas. Segundo especialistas, as quantidades distribuídas aos estados devem durar o equivalente a três dias. Logo, espera-se que seja elaborado um planejamento adequado, levando consideração a quantidade disponível (que já não é tão alta) e as duas doses para cada pessoa. Estamos vivenciando essa problemática muito em decorrência do planejamento deficitário realizado pelo Ministério da Saúde em relação as vacinas.

A história recente nos mostra que o início da vacinação (em consonância com a flexibilização das medidas restritivas) em alguns países não tem contribuído para a diminuir o agravamento da pandemia e novos casos estão surgindo. Por exemplo, o Reino Unido, o primeiro país a iniciar a campanha de vacinação em massa, tem se deparado com o agravamento do contagio do coronavírus, com ampliação do número de casos, do número de hospitalizações e até mesmo o surgimento de uma nova variante da Sars-Cov-2.

No dia 17 de janeiro de 2021, a primeira brasileira foi vacinada contra Covid-19. Mônica Calazans, mulher negra, de 54 anos, trabalhadora da saúde (enfermeira), alocada Instituto de Infectologia Emílio Ribas (em São Paulo) desde maio e lá compondo a linha de frente no enfrentamento a pandemia. Foi voluntária nos testes de fase 3 ainda que tivesse ficado no grupo que recebeu o placebo. Para alguns, isso pode ser motivo de “suspiro de alívio” após onze meses de um acúmulo de más notícias. Para nós, comunistas, deve ser encarado como um “fôlego” mais encorpado no continuum da organização tática das nossas bandeiras. Afinal o Brasil está longe de ter começado uma “campanha de vacinação em massa” contra Covid-19 (a tirar pelo quantitativo adquirido e distribuído, bem como pelo planejamento realizado inicialmente), apenas deu início a esse processo. Se somarmos à ampliação do número de óbitos, o aumento do desemprego, das taxas de empobrecimento, da precarização e fragilização do Sistema Único de Saúde (SUS) e da miserabilidade da classe trabalhadora, não é aceitável acreditar que o início da vacinação irá minimizar os problemas decorrentes da crise pandêmica, quem dirá da crise estrutural do capital – com todas as suas manifestações e consequências nefastas para a sociedade.

É importante lutar por bandeiras relacionadas às necessidades urgentes da classe-que-vive-do-trabalho, a exemplo da luta pela vacinação em massa, contra o desemprego, pela continuidade do auxílio emergencial, entre outras. Contudo, para que no horizonte vislumbremos a superação do sistema de metabolismo antissocial do capital, se faz necessário a organização e construção de um bloco popular e proletário que antagonize a ordem capitalista e que trilhe na perspectiva de um projeto revolucionário.

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