Entrevista do Momento: Cheyenne Ayalla

Por Milton Pinheiro

 

Cheyenne Ayalla – estudante do Bacharelado Interdisciplinar de Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), da União da Juventude Comunista (UJC), candidata  a Deputada Federal nas eleições 2022 pelo PCB. 

O Momento: Você é uma jovem militante política, como examina o papel da juventude nas lutas de classes em curso?

Ayalla: Hoje, com a ofensiva neoliberal cada vez mais crescente e feroz, as conquistas e o bem-estar da classe trabalhadora tornam-se pó, aqueles que sucedem esse contexto, seus filhos e filhas, encaram esse cenário caótico. Diante disso, com a continuidade dessa realidade, uma perspectiva de futuro melhor é muito improvável e é nesse momento que a juventude, sobretudo organizada, coloca-se para mudar essa conjuntura. Nesse sentido, penso que, com a construção dessa luta, a juventude trabalhadora não herdará a exploração a que seus pais e mães foram submetidos, mas sim a coragem e a ousadia revolucionária. Como militante da União da Juventude Comunista (UJC), percebo que a juventude, sobretudo a juventude organizada, tem o papel fundamental de apresentar uma nova leitura de mundo e um novo horizonte para o futuro da classe trabalhadora, novo mundo e horizonte que devem ser construídos tendo como norte o fim desse sistema que explora, expropria e promove a miséria, logo, o fim do sistema capitalista e a edificação da sociedade socialista, rumo ao poder popular. Desse modo, a partir do cadáver putrefrado do sistema capitalista, do colonialismo, das autocracias burguesas, dos oligopólios e da barbárie do agronegócio renascerá uma nova humanidade, uma humanidade emancipada! Portanto, o papel da juventude na luta de classes é organizar a sua revolta e o seu ódio, canalizando-os na luta pelo fim do capitalismo e na construção do projeto de sociedade que emancipará toda a humanidade: a edificação da sociedade socialista e do poder popular. 

O Momento: Quais seriam as questões centrais que hoje impactam a juventude brasileira? 

Ayalla: São diversas as questões que impactam a juventude brasileira, dentre elas: 1) a da insegurança pública que tem como alvo, em sua imensa maioria, a juventude negra e periférica. Nesse contexto, a polícia, desonestamente, é apresentada para a sociedade como servidores públicos a serviço da segurança pública, sendo que, na realidade, eles provocam o genocídio e a hipercarcerização de todo um povo, bem como o terror nos becos e vielas das periferias e comunidades desse Brasil. Sem contar que as operações dentro das comunidades quando não matam os filhos e filhas da classe trabalhadora, jogam-lhes em celas de prisões superlotadas onde a nossa juventude não tem acesso a qualquer forma de direitos humanos; 2) outra questão que impacta muito a juventude é a constante precarização do trabalho e sua inserção, cada vez mais cedo, no mercado de trabalho para que possam garantir a sua existência material no mundo. Essa inserção prematura os submete, muitas vezes, a postos de trabalho altamente precarizados, um exemplo disso é o crescente aumento de trabalhadores no telemarketing, principalmente os jovens que compõe a comunidade LGBTQIA+, que já são alvos de opressões domésticas e no mundo do trabalho, tendem a operacionar na lógica de metas e de uma intensa cobrança. Trata-se da lógica do desemprego estrutural, do exército de trabalhadores que são mantidos na reserva e são utilizados como barganha para que o sistema capitalista sempre permaneça edificado. Com isso, percebemos que os problemas são graves e diversos, sendo vital a derrocada do capitalismo e do neoliberalismo o quanto antes.

O Momento: Como pensa a situação das comunidades urbanas dentro das cidades que, gestadas pelo capitalismo, estão em completo abandono? Por exemplo os bairros populares e periféricos. 

Ayalla: Em completo abandono, pelo fato de não existir nenhuma preocupação do poder público burguês, em estabelecer uma política pública que promova acessibilidade às cidades. A maior parte da população não tem direito à cidade, principalmente aqueles que moram em periferias, favelas e encostas. Nesse contexto urbano, uma das consequências da especulação imobiliária é a gentrificação, o custo de vida fica mais caro em áreas urbanas mais centrais, como por exemplo, aluguel e alimentação, obrigando a classe trabalhadora a morar em áreas periféricas das grandes cidades. De maneira proposital, essas áreas ficam ainda mais distantes do centro, dificultando o acesso dessa população a moradias seguras, saneamento básico, saúde básica, e à educação para seus filhos e filhas. Além disso, esse distanciamento implica no deslocamento destes para seus trabalhos, sendo submetidos a transportes públicos caros e precarizados e uma mobilidade urbana cada vez mais inflada e de péssima qualidade, assim, os/as trabalhadores/as levam em média duas horas de deslocamento de suas casas para o trabalho. Então, para além de encararmos uma realidade caótica da vida urbana somos submetidos/as ao adoecimento físico e mental provocado pelo capitalismo e pelo neoliberalismo.

O Momento: Qual o papel da escola e da universidade na vida da juventude pobre, preta e periférica nesse momento? 

Ayalla: A escola e a universidade têm um papel fundamental na sociedade, entretanto, devido a ofensiva neoliberal, a juventude negra e periférica é submetida a uma educação pública extremamente precarizada. A escola pública tem passado por um processo de desmonte através de cortes na educação pública, desde a guinada do golpista mdbista, Michel Temer, ao poder, e a partir disso ocorreram diversas mudanças sorrateiras e preocupantes nas escolas, a exemplo disso, desde 2018, com os bolsonaristas no poder, a militarização das escolas com a máscara de que são a melhor alternativa para a educação das crianças e jovens quando, na verdade, é o podar das liberdades estabelecidas constitucionalmente desde redemocratização. Nesse âmbito, desde 2018, as mudanças que atingiram a educação colocam em evidência o autoritarismo militar e a reforma do ensino médio retira matérias que incentivam o pensamento crítico e, ao mesmo tempo, inclui outras que pouco atendem as demandas dos jovens, a exemplo da educação financeira. Além disso, a universidade pública em consequência desse novo ensino médio está cada vez mais precarizada e o ingresso dos jovens pobres e periféricos por meio do vestibular – que é o meio de acesso ao ensino superior – tem sido cada vez mais restrito. Conjuntamente a isso, os cortes afetam diretamente as universidades e encontram-se na casa dos bilhões afetando não apenas a manutenção da estrutura física da universidade e os salários de funcionários como também a garantia de permanência dos estudantes vindos do interior do país e os que moram na periferia, sendo cada vez menor a quantidade de bolsas permanência. Pois de nada adianta o ingresso na universidade pública se não for garantido os subsídios para que os estudantes permaneçam na universidade, a exemplo da garantia do transporte através do passe livre, a exemplo da alimentação por meio dos restaurantes universitários, a exemplo de saúde por meio de hospitais universitários, bem como o acesso à internet de qualidade, acesso a livros e acesso a creches para as estudantes que têm filhos. Além disso, estatizar as universidades do campo privado deve ser algo fundamental para as lutas da juventude contra o plano neoliberal que endivida os jovens, sobretudo, a juventude periférica que ingressa, na maioria das vezes, em instituições de ensino mercantilizada. Entendemos que a educação é uma ferramenta de aguçamento da criticidade das pessoas e que deve ser levada de forma crítica e, por esse mesmo motivo, é tão atacada pelos que estão no poder e restringidas cada vez mais quando estabelecem as reformas que podam o pensamento e cortam os investimentos na educação. Nesse sentido, defendê-la e torná-la 100% pública e acessível é uma luta primordial para juventude.

O Momento: Como examina o papel da mulher jovem nessa sociedade machista, misógina patriarcal? 

Ayalla: Acredito que o papel da mulher jovem está no combate desses algozes sociais, a saber: o machismo, a misoginia e o patriarcado, todas essas opressões são sustentadas pelo sistema capitalista. Apesar dessas opressões serem mais antigas que o próprio capitalismo, o machismo e a misoginia foram absorvidos pelo sistema para que a mulher fosse subjugada constituindo, assim, a sociedade patriarcal. Dessa maneira, esse imaginário produzido pelas grandes esferas de poder reflete de forma concreta na sociedade quando a mulher, principalmente jovem e periférica – que é um dos grupos mais explorados da sociedade -, está inserida no mercado de trabalho nos cargos de servidão, salários mais baixos, além das duplas, quando não triplas jornadas de trabalho, impedindo-lhes de qualquer outra ação, até mesmo a inserção na política por falta de tempo. Dito isso, a ausência das mulheres negras numa formação política ou em movimento mais organizado para alterar a realidade que as cercam é justamente pela estrutura a que estão inseridas e com isso não podendo combate-la de maneira substancial. Desse modo, quando se coloca a redução da jornada de trabalho como pauta principal de luta é para que a classe trabalhadora, como também a jovem mulher, esteja mais a par do seu papel político e mais conscientes da opressão diária que ela convive. Por fim, como nos mostra a literatura revolucionária e a história, o papel da mulher é fundamental na destruição do sistema capitalista e a jovem mulher herda essa luta das gerações de mulheres que vieram anteriormente a ela. Sejamos fortes e aguerridas camaradas, pois a luta é árdua. 

O Momento: Você é candidata a deputada federal pelo PCB, quais são as suas principais preocupações? 

Ayalla: Na conjuntura que se apresenta, vejo uma direita que segue extremista, porém com ações ainda mais explícitas e ainda mais violenta. Somado a isso, está a esquerda moderada (moderadíssima) encabeçada, principalmente, pelo Partido dos Trabalhadores que disputa setores da burguesia através de um projeto subalterno de conciliação de classes. Tal projeto conciliador freia o processo de luta de classes e nega comprometimento com as dificuldades que sofrem a classe trabalhadora, tendo em vista que a conciliação de classes é puramente um projeto focado nas eleições representativas burguesas. Nesse cenário, o PCB como um partido de vanguarda tem a tarefa de elevar o debate e trazer propostas que estejam a par das dificuldades materiais da classe trabalhadora, não apenas apontando os problemas estruturais, mas também pontuando a importância da organização da classe trabalhadora para superação dessas contradições e a edificação da sociedade socialista, rumo ao poder popular. Enquanto comunista e candidata a deputada federal, minhas principais preocupações estão ligadas a como devemos levar o nosso discurso, visando sempre a segurança dos camaradas. Dessa forma, preocupo-me com o discurso enraizado e construído ao longo de anos pela propaganda anticomunista promovida e financiada pelo imperialismo norte-americano, principalmente. Por isso, nesse momento, é ainda mais necessário audácia, cautela e estratégia no campo político, é um compromisso muito sério. Dito isso, mais do que nunca nossa militância deve estar alinhada com a disciplina revolucionária devido ao acirramento da conjuntura e a tarefa extraordinária (as eleições 2022) que estamos enfrentando. Lembrando sempre que o PCB se baseia não na filiação, como se faz na democracia burguesa, mas na militância revolucionária, então, tanto minha candidatura quanto às candidaturas dos/as demais camaradas que estão nessa tarefa não são candidaturas individuais, como está burocraticamente posto, mas algo que é colocado como tarefa para cada militante comprometido com nossa causa e nosso novo modelo de sociedade. Em outras palavras, é uma tarefa coletiva. 

O Momento: Qual é a sua reflexão sobre o processo de lutas políticas que se movimentam na luta pelo Poder Popular, na perspectiva do socialismo? 

Ayalla: Desde que me organizei na União da Juventude Comunista (UJC) e no Partido Comunista Brasileiro (PCB), vejo crescente as visões mais radicalizadas dos problemas que nos rondam. Nesse contexto, a guinada neofascista ao poder e seus tentáculos mortíferos pelo Brasil a fora mostrou concretamente a juventude – e grande parte da sociedade – que sem uma democracia que realmente seja para o povo, que se traduz no Poder Popular, esses golpistas e ladrões estarão no poder a cada novo ciclo econômico de derrota da social-democracia. Desse modo, mais do que nunca, devemos saber qual a nossa ideologia política, ler e estudar a nossa teoria revolucionária do proletariado – a qual é imortal – e estarmos atentas/os à disciplina revolucionária pois essas são ferramentas de luta. Mas, sei que o socialismo e a ânsia por uma nova sociedade são cada vez mais crescentes e nossa militância está cada vez mais preparada para espalhar a palavra e a prática revolucionária por todo país. Então, se hoje estamos cada vez mais conhecidos é devido ao nosso comprometimento com essa tarefa histórica. Portanto, quando levantamos nossas palavras de ordem estamos falando do nosso compromisso enquanto comunistas e quando estamos construindo nosso trabalho de base pouco a pouco nos bairros, locais de trabalho, universidades e por onde formos – pois somos revolucionários a todo instante – é onde estamos honrando nosso dever enquanto partido de vanguarda: 

PODER 

Poder

 PODER PARA O POVO

 Poder para o povo

 E O PODER DO POVO E

 o poder do povo

 VAI CONSTRUIR UM MUNDO NOVO! 

VENCEREMOS, CAMARADAS

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