Editorial: Tardo-carlismo e o petismo de governo

Por Milton Pinheiro

 

Em outro momento dessa jornada editorial, ao analisar o processo eleitoral na Bahia de 2022, fiz questão de alertar sobre o longevo histórico que define o comportamento oportunista das diversas frações do Centrão, na ordem de pertencimento aos governos de plantão. Esses agrupamentos de centro direita, fisiológicos por excelência, alguns definitivamente consorciados ao bolsonarismo de rapina, se especializaram em montar acampamento na antesala das coligações que estão com farta vantagem eleitoral. Agora não seria diferente.

Esse horizonte de vitória é determinante na aproximação desses segmentos do balcão de negócios dos governos, e dos parlamentos, na lógica que operam para se tornarem apoiadores dos corriqueiros governos da província. Até aí nada de novo no Front. Afinal, por 16 anos o petismo no governo alimentou os vícios dessa escória da política, optando por não modificar em nada à forma pela qual foram compostas as coligações burgo-petistas na velha Bahia; mantendo-se na mesma fórmula utilizada pelo antigo chefe político, Antônio Carlos Magalhães.

O projeto do petismo de governo foi pautado em obras para terceirização, com baixa capacidade de atendimento social (infraestrutura de saúde, sistema de educação e integração policial); utilizou como método de composição da máquina pública o sistema de votação dos chefes políticos locais e, ao lado disso, um sistema de cotas para atender aos interesses pessoais do governador e dos mais próximos (laços de amizade e familiar); o controle dos recursos foi administrado pela gerência/método da iniciativa privada; foi feito superávit primário às custas do maior arrocho salarial da história do século XXI sobre os trabalhadores do serviço público. E foi implementada a mesma lógica de ACM e Paulo Souto aprofundando a escorcha previdenciária, ao tempo em que são disponibilizados fartos recursos para a máquina de propaganda do governo.

Essa modalidade de governo foi levada à exaustão e aprimorou um perfil ideológico que o tornou refém do conservadorismo societário (família, religião, segurança pública, juventude, etc.), contribuindo assim para reafirmar pontos do conservadorismo estabelecidos pelo neopetencostalismo e pelo complexo político da parceria com a centro direita que está nos rincões do estado, estimulando vícios, posturas antiéticas e práticas de “curral” eleitoral.

O burgo-petismo, aliado do tardo-carlismo, considera que seu maior empreendimento político é o que eles chamam de “portifólio de obras”. Estão redondamente enganados, seu maior empreendimento foi fazer tudo igual para que nada pudesse ser mudado. Vejamos, total ausência de diálogo com quem faz a ponte entre o governo e a população através dos serviços públicos: o funcionalismo público. Sistema de educação caótico e sem atingir suas finalidades, universidades estaduais sucateadas e sem prioridade por parte do governo, sistema de segurança pública reconhecido não pela forma cidadã de proteger a população, mas, notabilizando-se como o segundo estado que mais executa pretos e pobres no Brasil, e prédios hospitalares sem capacidade de atendimento que, em última instância, é causado pelo sistema de terceirização.

Nesse cenário da lógica política estatal, a conjuntura das alianças está sendo impactada pela pesquisa eleitoral. Os altos índices eleitorais apresentados pelo candidato ACM, o neto, movimentaram o tabuleiro das alianças na Bahia, e alguns fatores devem ser destacados. O primeiro deles, foi o papel desagregador do governador Rui Costa. Sua arrogância e mandonismo facilitou que as aves de arribação do fisiologismo baiano levantassem vôo em sentido da coligação de seu rival. Segundo, durante 16 anos o petismo de governo nunca procurou estabelecer novos parâmetros para articulação política, muito menos estabelecer laços com os movimentos populares de massas na Bahia. Terceiro, o candidato escolhido por Rui Costa não conseguiu nem conversar com o projeto estratégico de universidade estadual, muito menos com a educação básica; ferindo deliberadamente a autonomia da universidade pública baiana e atacando a carreira docente, sem falar no colapso salarial que a categoria foi submetida.

Consolidou-se a crise do ciclo do petismo de governo e sua aliança com o tardo-carlismo. A lógica do estímulo-resposta das relações burgo-petistas entrou em convulsão. O bloco tardo-carlista quer o que sempre quis: integrar governos, ganhar cargos, ter obras paroquiais, ser afagado pelo chefe de plantão, portanto, vai mudar para ficar tudo como está. Afinal, o que esperar do PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, que aqui na Bahia é dirigido pela família de Cacá Leão, o Cláudio Cajado e congêneres, todos bolsonaristas no Congresso Nacional.

Só resta ao petismo de governo, com seus erros estratégicos e sua incapacidade tática, colar o anódino Jerônimo Rodrigues à figura popular do ex-presidente Lula e torcer para essa fórmula possa se repetir novamente. Será que dará certo?

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