Editorial – Bolsonaro, os Militares e a Política

Reprodução: IstoÉ

Por Milton Pinheiro

Bolsonaro, os Militares e a Política – O cenário político brasileiro, para além da dramática situação da Covid 19, está impactado pela constante ameaça ou blefe do agitador fascista, Jair Bolsonaro, do uso das forças armadas para realizar operações ao estilo de estado de sítio ou estado de emergência.

O Brasil encontra-se afetado pela intensa e persistente crise econômica; o quadro da vida social nos permite informar que o conjunto da população se encontra em profundo esgarçamento do tecido social diante do gigante e perverso desemprego, com uma crescente carestia que ataca os mais pobres, com a difusão da fome e miséria que pode levar o país a um quadro de profundo caos social.

Essa condensação das mazelas brasileiras, resultado do projeto elaborado pelo governo federal em aliança com o consórcio burguês, estacionado no bloco do poder, pode tornar imprevisível o sentido da política e da vida social. Tudo isto numa relação de força que evidencia o protagonismo de frações da burguesia interna, que buscam melhor posição na ordem do Estado brasileiro e numa situação que não tem permitido que os trabalhadores e as organizações proletárias e populares vão para as ruas e praças.

O presidente de extrema-direita tem procurado estabelecer-se numa posição muito dúbia, que por hora o coloca em consonância com as hordas neofascistas (a Covid 19 não tem importância, o isolamento social é um crime, simpatia por desfechos autoritários e golpistas, completo desrespeito ao mínimo da ordem constitucional, armar o indivíduo para agir como se estivéssemos no estado de natureza, etc.) e em outros momentos, opera tímidas sinalizações para com os estratos conservadores da ordem estatal como forma de se garantir um mínimo de governabilidade, ou, até mesmo, incentivar a ilusão dessa existência.

Essa dupla face é a linha tênue por onde se apresenta os projetos de caos controlado e golpe por dentro das instituições que são articulados pelo complexo bolsonarista dentro e fora do Estado brasileiro, ao tempo que exercita momentos de apaziguamento com o parlamento e o STF como forma de contenção de danos. O sentido da política para o presidente é a construção, no bizarro cenário da interlocução política, de janelas de oportunidades para fazer testes de força e gerar um provável estado de emergência ou até mesmo de estado de sítio.

Na plataforma de ação do agrupamento sediado no palácio do Planalto, encontra-se uma velha articulação com um conjunto significativo de grupos reacionários estacionados nas forças armadas. A operação passa por aprofundar a pauta do inimigo interno, avança para benesses corporativas, alonga-se em melhor dotação orçamentária para Exército, Marinha e Aeronáutica, exerce o fator cooptação através de postos-chave na cúpula ministerial do governo de extrema-direita e adiciona o balcão da pequena política com a nomeação de milhares de cargos comissionados no governo federal.

Precisamos entender que no Brasil pós-1945 diversos extratos das forças armadas foram convertidos a uma posição reacionária. Com essa nova postura ideológica, a defesa da pátria, diante do inimigo externo, foi delegada para plano secundário. Tudo isso se desenvolveu com profunda modificação na composição política da tropa. Elaborou-se um discurso de direita subserviente ao imperialismo estadunidense e contra todos/as aqueles/as que lutavam em defesa de transformações sociais.

Com o governo do agitador fascista, Jair Bolsonaro, a “politização” da tropa ganhou um requentado discurso conservador, cujo conteúdo principal é gestão da política e a posição de subalterno ao bloco burguês e seu consórcio internacional. Bolsonaro movimentou, como cenário principal, contingentes importantes das forças armadas para seu projeto burguês e golpista. Transformou essa burocracia de Estado em um segmento privilegiado diante do conjunto dos trabalhadores públicos da união e trouxe de volta o perfil saudosista do que é ser esse agente que foi criado pelo golpe burgo-militar de 1964 e seus diversos governos.

Temos, portanto, para além do projeto de destruição do Brasil, para efetivar a sua noção de país sobre os escombros do que existia, uma ação desenvolvida pelas hordas bolsonaristas, fora e dentro do governo, que é colocar na cena da disputa política (ao lado de Bolsonaro) as forças armadas. Se esse projeto de derrocada das balizas formais da democracia já não fosse algo temerário, a extrema-direita cooptou as forças públicas de segurança dos entes federados. A PM, em especial, tem tido um importante protagonismo nesse ciclo de ações neofascistas que está em curso.

Portanto, vivemos uma quadra política complexa. A extrema direita está um passo à frente; a esquerda revolucionária tem que conformar um amplo leque de unidade de ação para enfrentar esse bloco na cena política, que o conjunto da classe trabalhadora não conseguiu ainda desvelar, e operar a frente única proletária, popular e de esquerda.

A disputa na luta de classes tende a se acirrar, inclusive em virtude da imensa crise social que o Brasil está passando e da gigante mortandade da Covid 19. Organizar a luta, voltar a incidir nas ações de rua (com a devida proteção), perseverar na auto-organização da classe trabalhadora e investir no trabalho de base é o caminho que devemos trilhar para barrar o neofascismo, conter a extrema-direita e avançar no projeto de poder popular na perspectiva do socialismo.

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