Desindustrialização, Desemprego e Desigualdade na Bahia

Reprodução: Sindipetro Caxias

Por João Pedro Aguiar

Desindustrialização, Desemprego e Desigualdade na Bahia – O anúncio do encerramento das atividades da Ford na Bahia, com o prejuízo de 12 mil postos de trabalhos diretos e 60 mil indiretos, não foi a única má notícia para os trabalhadores baianos neste início de 2021: a privatização da RLAM – Refinaria Landulpho Alves, a primeira do país e fundamental para impulsionar o primeiro polo petroquímico brasileiro em Camaçari – foi realizada por 50% de seu preço, comprada pela multinacional Mudabala, dos Emirados Árabes Unidos. A venda da refinaria faz parte da agenda de privatizações das principais estatais brasileiras impetrada pelo governo Bolsonaro-Mourão. Tal cenário de retrocessos engrossa o índice de baianos desempregados, que, segundo o IBGE, era de 20% em 2020 – o segundo maior do Brasil.

O desemprego, que cada vez mais se generaliza, é responsável por aumentar as desigualdades sociais e deteriorar as condições e a qualidade de vida da população trabalhadora. Para olharmos mais de perto a gravidade do quadro, podemos observar os dados emitidos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos – DIEESE, que analisou os contínuos aumentos no custo da cesta básica em Salvador. Entre janeiro de 2020 e o início de 2021, esse custo cresceu 30% na capital baiana, o que corresponde a, aproximadamente, 50% do salário mínimo.

Estes fatos nos ajudam a etender como a Bahia encabeça os piores indicadores sociais do país. Segundo levantamento do IBGE, quase metade da população baiana, cerca de 7,3 milhões de trabalhadores, está em situação de insegurança alimentar, ou seja, quando o acesso e a disponibilidade de aliementos são escassos. Muitas famílias têm comprometido a qualidade da alimentação para garantir a possibilidade de comprar comida. Concretamente, a ausência de fontes de renda em decorrência do desemprego galopante, da concentração de terras pelo agronegócio e do desmonte do parque industrial, tem gerado uma situação de penúria social, revivendo a fome e a carestia como realidade para milhões de trabalhadores baianos.

Em 2020, as indústria de transformação e de extração representaram 21,8% do PIB do estado. Os setores da calçados, bebidas, produção de plásticos e borracha (que se caracteriza pela produção de pneus), metalurgia, Produtos Minerais Não-Metálicos e Informática tiveram quedas significativas a partir de abril, após o início da crise sanitária, segundo documento publicado pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia – FIEB, traduzindo-se na ampliação de demissões e fechamento de postos de trabalho.

A conjuntura retrógrada para a população trabalhadora é resultado da desarticulação do Estado em organizar a produção e o trabalho, em favorecimento da burguesia interna brasileira e internacional, com suas investidas em empresas estratégicas. A desindustrialização na Bahia, em paralelo à desindustrialização nacional, reforça a posição dependente e subordinada da burguesia brasileira na cadeia de produção global do capitalismo, na qual a indústria primária – de exportação de commodities – ocupa um peso muito maior na produção nacional por ser mais vantajosa para essas frações do capital, mesmo sendo um setor obsoleto e que dispensa vagas de postos de trabalho.

Contudo, uma economia centralizada na exportação de commodities (principalmente advindos do agronegócio) e no setor de serviços não é uma condição de antagonismo para a burguesia, mas sim uma condição de vantagem, pois esta garante suas taxas de lucro. O ônus está para os trabalhadores: tal política significa a redução dos postos de trabalho e o crescimento das mazelas sociais proporcionadas pelo desemprego.

Já o Governo da Bahia, liderado pelo governador Rui Costa (PT) e por uma coalização com o PCdoB, PSD, PP e outras siglas menores, tem mantido a tendência nacional de organizar a atividade econômica em prol da agroexportação. O Governo do Estado não consegue dar nenhuma resposta no combate ao desemprego e às desigualdades, a não ser se apoiar no receituário neoliberal, baseando sua atividade em garantir estímulos financeiros como subsídios para o setor privado e buscar atender suas exigências para garantir a “segurança” para investidores. A defesa da recuperação econômica da Bahia, do combate ao desemprego e das desigualdades perpassa pela revogação imediata das reformas trabalhistas, das medidas de ajuste fiscal e de todas as políticas neoliberais, que destruíram os postos de trabalho e ampliaram as desigualdades. Mas a organização racional da economia, planejando o desenolvimento em prol da satisfação do interesse dos trabalhadores, não será dentro dos marcos do sistema capitalista. Somente trilhando um caminho autônomo construído pelo Poder Popular, será possível combater, na raiz, as desigualdades que afligem a classe trabalhadora baiana e brasileira.

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