Democracia no Brasil: um produto acessível à burguesia, mas que custa caro à população

Por Gabriela Pithon

É fato que a história do Brasil foi e segue sendo construída por meio de políticas completamente instáveis e líderes que nunca levaram em consideração a voz do povo. O que esperar de um país que continuou sendo monarquista após a Independência, com o apoio e financiamento de escravocratas? Ou que proclamou sua República através de um golpe de Estado? Onde por muito tempo o voto de cabresto prevaleceu e, mesmo em tempos atuais, políticos cometem diversos crimes eleitorais e ganham as eleições. 

Desde a colonização até a ditadura militar, o povo teve constantemente sua voz calada, seus direitos arrancados e sua identidade apagada, e esse passado extremamente bárbaro e opressor nos traz consequências até hoje. A desigualdade social segue piorando a cada dia, minorias são marginalizadas e assassinadas apenas por existirem e o racismo é escancarado de várias formas: através da violência policial, da cultura de subordinação do negro, e até em frases que escutamos no dia a dia, que foram normalizadas, ao ponto de que se condenarmos esses atos, é “vitimismo” e “mimimi”. 

Por incrível que pareça, o período democrático mais longo de nossa história é justamente esse que estamos vivendo, 36 anos desde o fim da ditadura militar, mesmo assim, continuamos tendo nossa democracia ameaçada todos os dias, colocando em risco também, nossos direitos e liberdade de se expressar.

O Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 deixou bem claro a fragilidade da democracia no país. Naquele momento, a elite brasileira usou todos os seus recursos para alienar a população e fazer parecer que estávamos do mesmo lado, que lutávamos pelas mesmas coisas, quando na realidade apenas defendiam os interesses da burguesia, e de lá para cá, com os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, quem sofreu as consequências foi o povo, que estava na rua apoiando o golpe.

Existe uma ideia de que a democracia representa a voz do povo. Tudo é feito pensando no povo. É pensando no povo que a burguesia manipula informações a todo momento, é pensando no povo que a burguesia precariza saúde e educação pública de propósito, e é pensando no povo que a burguesia apoia operações policiais que matam pessoas inocentes todos os dias.

A democracia no Brasil não passa de uma palavra com significado meramente ilustrativo para fazer a população acreditar que a gente tem algum poder de decisão no país, quando na verdade, vivemos uma ditadura da burguesia. 

Segundo Lenin, em seu livro “Como Iludir o Povo”, a própria estrutura do sistema capitalista promove uma desigualdade de recursos políticos, como dinheiro, meios de comunicação, educação, etc. Com base nisso, a burguesia toma nossos recursos e em troca nos dá uma falsa sensação de liberdade de escolha, essa ilusão de participação popular na política.

A Reforma Trabalhista não foi pedida pelo povo, a Reforma da Previdência não foi pedida pelo povo, e muito menos a Reforma do Ensino Médio. E quanto a Reforma Agrária? Lutamos tanto por isso e a única vez que chegamos perto de conseguir, sofremos um golpe de Estado.

Outro exemplo da ditadura burguesa é a prisão de Lula, em 2018. A partir do momento que ele começou a dar o mínimo de dignidade para a população, foi preso injustamente e sem provas. Ou seja, até mesmo a Justiça, um dos principais pilares da democracia, funciona de acordo os interesses da burguesia. 

Quando vamos às ruas nos manifestar e lutar por nossos direitos, somos recebidos pela polícia com violência, tiros de bala de borracha e gás lacrimogêneo. A mesma polícia que estava tirando fotos e dando risadas com os golpistas do 8 de janeiro. 

Assim como Eduardo Galeano, eu também me pergunto: será que tudo nos é proibido, exceto cruzar os braços?

 

Referências:

LENIN, Vladmir Ilitch Ulianov. Como iludir o povo. Editoria Global. Brasil, 1979.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. L&PM Editores. Brasil, 2022.

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