Bahia: um guia para seus mistérios econômicos

Por Vinícius Correia

Ao retornar do seu exílio político, da ditadura do Estado Novo de Vargas, Jorge Amado publica em 1944 o romance “Bahia de Todos os Santos”. Nesse livro, ele narra a vida e a cultura dos baianos como se fosse um guia, ele escreve: “A Bahia te espera para sua festa quotidiana. Teus olhos se encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também diante da miséria que sobra nestas ruas coloniais onde se elevaram, violentos, magros e feios, os arranha-céus modernos”.

Passados 75 anos depois dos “violentos” arranha-céus já ocuparem os centros urbanos das 417 cidades baianas, com uma população de 14,9 milhões de pessoas, segundo IBGE, a 4º em população do Brasil, com um PIB de aproximadamente R$ 269 bilhões de reais, a Bahia ocupa a 7º economia do Brasil.

Sua agricultura tem uma produção de Soja no valor de R$ 7,1 bilhões, R$3,8 de Algodão, R$ 1,4 bilhões de café e R$3,7 bilhões em fruticultura,  o 2º maior produtor de fruta do Brasil de acordo com o Sistema Estadual de Informação (SEI). A indústria de transformação baiana tem um valor adicionado de R$ 29,8 bilhões com destaque para o refino de petróleo (R$10,7 bilhões), construção civil (13,2 bilhões), produtos químicos (R$ 7,3 bilhões), papel e celulose (R$3,7 bilhões).

O setor de serviços tem 70,9% de participação do PIB da Bahia em 2017 correspondendo a R$ 167,3 bilhões em valor adicionado, com um estoque de 2,3 milhões de empregos formais (6º no Brasil em estoque de emprego), logo, o rendimento médio mensal desse emprego é de R$ 2.433,85 reais.

Entretanto, como a Bahia não é somente essa “festa pitoresca” de dados econômicos que reforçam sua riqueza material. Temos que levar em consideração que no Estado da Bahia a taxa de analfabetismo em pleno século XXI é de 20,8% da população, chegando a 30,3% de analfabetismo no Território de Identidade do Semiárido Nordeste II, ou seja, 1/3 da população dessa região são de pessoas analfabetas.

Além de que, a extrema pobreza na Bahia atinge em média 18,8% da população baiana. Lembrando que na Região Metropolitana de Salvador 6,2% das pessoas vivem na extrema pobreza, mas regiões como no Território Identidade do “Velho Chico”, “Bacia do Paramirin”, “Semiárido Nordeste II” tem 28,4%, 25,7% e 25% respectivamente possuem pessoas na extrema pobreza.

O rendimento médio do trabalho formal nessas regiões é de aproximadamente R$ 1.700 reais contra a média de R$ 3.010 na região Metropolitana de Salvador, vide a média no Estado é de R$ 2.433,85. Consequentemente, 57% das famílias do “Velho Chico” são beneficiários do Bolsa Família, como também 51% das famílias baianas recebem esse auxílio.

Sendo assim, pensar a Bahia em termos econômicos não é só vangloriar seus milhões,  bilhões e PIB como uma simples análise comparativa com outros Estados do Brasil. Pensar a Bahia é considerá-la um Estado com uma grande riqueza material concentrada, principalmente na Região Metropolitana de Salvador, mas também pensar que na Bahia tem extrema pobreza, analfabetos e concentração de renda.

Na verdade, a Bahia ainda não resolveu seus problemas econômicos estruturais, a miséria e a dor relatada em forma de prosa em 1944 por Jorge Amado ainda são contemporâneas, pois qualquer analogia não é mera coincidência!

Pois, como Jorge destacou em seu romance: “Se amas a humanidade e desejas ver a Bahia com olhos de amor e compreensão, então eu serei teu guia. Riremos juntos e juntos nos revoltaremos […]. Mas eu te direi muito mais, pois te falarei do pitoresco e da poesia, te contarei da dor e da miséria”.

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