19 de Junho: Trabalhadores na Rua Contra o Governo Bolsonaro-Mourão

Por Daniel Drummond

19 de Junho: Trabalhadores na Rua Contra o Governo Bolsonaro-Mourão – Aglomerações. Termo que vem incutindo temor em corações brasileiros nos últimos tempos. Entretanto, ontem, no dia 19 de junho de 2021, #19J, milhares de pessoas se encontram novamente nas ruas. Cartazes, bandeiras, gritos de ordem. Punhos erguidos em riste. Que aglomerações são essas?

Por todo lado, um detalhe se destaca: máscaras, em sua grande maioria PFF2 e N95, ou tecido, mas reforçadas com máscaras cirúrgicas, faceshields; borrifos de álcool são compartilhados entre estranhos. Garrafas não são compartilhadas e qualquer pessoa que vai beber água se afasta para retirar com cuidado sua máscara. O branco das máscaras contrasta com o vermelho das roupas e bandeiras, como contrasta o cuidado com a segurança com a necessidade pulsante de ocupar as ruas.

No último pronunciamento em redes sociais, o presidente voltou a realizar afirmações não corroboradas pela ciência, indicando que a vacina não é confiável e a proteção mais segura é dos que já foram contaminados e sobreviveram. Numa matemática básica, assumindo a taxa de mortalidade brasileira de 3% dos infectados e das infectadas, numa população de mais de 200 milhões de pessoas como é a nossa, seriam mais de 6 milhões de mortes no projeto do Governo Bolsonaro/Mourão. Nas ruas, ontem, 19 de Junho, pessoas tentando impedir os 5 milhões e meio que faltam.

No último mês, as ruas voltaram a pulsar com as cores que correm nas veias dos brasileiros que não esqueceram ou ignoraram os que padecerem vítimas de uma pandemia que se não evitada, poderia ter sido amenizada. No dia 29 de maio, mais de 200 cidades foram ocupadas pelo Brasil por milhões de pessoas. Ontem, 19 de junho, alcançamos mais de 400 cidades ocupadas, incluindo em países no exterior que se solidarizam com a calamidade que enfrentamos.

Os brasileiros e as brasileiras que se encontram às ruas não compartilham apenas o luto e a revolta. Nos olhos, nos gritos e nos gestos, a esquerda se faz vividamente presente, tornando indiscutível o caráter político e a linha do ato. Entre estas forças, uma se destaca pela coordenação, organização e potência de sua militância aguerrida. Mantendo sua perene presença em todos os atos de rua, o Partido Comunista Brasileiro, seus coletivos, sua corrente sindical classista e sua organização estudantil demarcam o seu espaço na maior manifestação do ano até o momento.

Presente em inúmeros estados, aqui na Bahia o PCB foi às ruas nas cidades de Camaçari, Itabuna, Ilhéus, Alagoinhas, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Petrolina e Salvador. Desta última é de onde este texto se escuta, enquanto busca caminhando por entre esta fervorosa militância expressar a sensação de se estar presente. Com um trio elétrico onde os quadros do partido e dos coletivos puxavam palavras de ordem, o bloco do poder popular se organizava junto aos e às militantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), incluindo os moradores e as moradoras da Ocupação Carlos Marighella, e a militância da Unidade Popular (UP) e sua juventude a União da Juventude Rebelião (UJR).

Vim para as ruas hoje porque é inadmissível” – nos disse Murilo Bastos, professor da rede básica e militante do PCB e da Unidade Classista. “500 mil mortes no país hoje e a falta de um auxílio emergencial digno. Estou nas ruas porque eu acredito que é possível criar uma outra sociedade. Uma sociedade socialista, porque a barbárie nós já estamos vivendo.” As palavras de ordem ao fundo, proclamavam o contraste entre a proposta de poder popular e o programa fascista instituído no atual governo. “Por Emprego, Vacina no Braço e Comida no Prato”, era possível escutar frequentemente nos gritos da militância.

Aline Oliveira, fisioterapeuta, estudante de psicologia e militante do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro relata: “eu vim aqui para rua com o PCB para colocar o Bolsonaro e o Mourão para fora (…). A gente está aqui para tentar reverter essa situação, para que a gente possa conseguir sobreviver até o ano que vem, no mínimo.” Essa sensação de urgência, era latente. Em inúmeras falas, a militância impunha a discordância com parte das outras forças na manifestação, que viam ali um espaço de disputa da democracia burguesa e construção de uma oposição para as eleições de 2022. “Temos uma bandeira central que é permanecer na luta e avançar porque nós não podemos esperar até 2022”, nos diz Felipe, estudante de história e militante da UJC. “Se esperarmos, vamos ter mais de um milhão de mortos e tudo privatizado”, ele conclui.

A manifestação partiu da concentração no Campo Grande em direção ao porto da Barra. No caminho, foi se avolumando e cobriu vários quilômetros da histórica avenida Sete de Setembro. Inúmeros cartazes se erguiam junto a punhos cerrados, no que sobravam dos rostos cobertos com máscaras, lia-se nos olhos a certeza de que se a população está nas ruas, é porque o presidente nos oferece mais risco que o vírus. Para derrotar Bolsonaro, Mourão e sua corja, seu projeto de morte da burguesia liquidacionista brasileira, para que possamos ter auxílio emergencial justo e vacina para todos e todas, pelo fim da violência policial e do genocídio da população negra, foram algumas das pautas levantadas, mas também o anseio de preparar a greve geral por empregos e por mais direitos. Nas ruas, a população marcha em resistência revolucionária.

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